Batismo do Senhor

"Depois de mim, vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias" - Mc 1,7.

Os fundamentos do Discipulado

Frei Gustavo Medella

 

Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella: Caminhos do Evangelho | Festa do Batismo do Senhor

 

O discurso de São Pedro (At 10,34-38), proclamado na 1ª Leitura deste Domingo em que se celebra o Batismo do Senhor, apresenta o núcleo da missão cristã na qual, pelo Batismo, o discípulo é mergulhado. Coloca em destaque o fundamento sobre o qual todos os outros expedientes da caminhada de fé devem estar embasados:

1) O Deus de Jesus Cristo não faz acepção de pessoas. Não existe, portanto, na lógica cristã, qualquer justificativa para se considerar alguém mais ou menos merecedor da Graça de Deus, que é dom da liberalidade divina e não prêmio para quem se destaca. A tentação de se privilegiar alguém pela posição social, pelo tamanho da conta bancária, pela origem ou por qualquer outro motivo não coaduna com o modo de ser proposto por um Deus que não distingue pessoas.

2) Ele valoriza quem O teme e pratica a justiça. Temor é respeito. Não é medo. Respeitar a Deus pressupõe necessariamente a prática do respeito em relação ao próximo, aos bens da criação, às relações. Agir com respeito significa praticar a justiça.

3) Ele ensina a fazer o bem. Curar os doentes, erguer os caídos e libertar os cativos foram ações que bem expressaram a disposição contínua e permanente que Jesus cultivava para praticar o Bem. Para o Mestre, toda e qualquer ocasião era uma oportunidade única para amar.

A celebração do Batismo do Senhor nos leve a abraçar com mais entusiasmo a proposta de vida plena que Jesus diariamente nos apresenta.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011. 

 

Batismo do Senhor

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

Primeira e segunda leitura como no ano A 

Oração: Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor.

  1. Primeira leitura: Is 42,1-4.6-7

Eis o meu servo: nele se compraz minha’alma.

A segunda parte do livro de Isaías (Is 40–55), inclui quatro poemas, chamados Cânticos do Servo Sofredor. Para a primeira leitura da festa do Batismo do Senhor foi escolhido o primeiro Cântico. É uma escolha bem apropriada porque ilumina o sentido do batismo de Jesus por João Batista. Os primeiros cristãos começaram a ler o Antigo Testamento à luz da fé em Cristo morto e ressuscitado. Usaram os cânticos de Isaías para interpretar a vida de Jesus e sua missão (ver At 8,26-40: conversão do camareiro etíope).

Na leitura de hoje, o profeta diz em nome de Deus: “Eis meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito. Nele se compraz a minha alma”. Deus põe sobre o servo o seu espírito, para cumprir uma missão universal, “o julgamento das nações”. O servo é um ungido pelo Espírito do Senhor. Ele não anunciará um julgamento punitivo, pois os exilados já pagaram em dobro por seus crimes (Is 40,2). O julgamento das nações é para salvar o povo eleito. O servo virá com a mansidão de um pastor para cuidar das suas ovelhas, sobretudo, das mais fracas: Não quebrará a cana rachada, nem apagará o pavio que ainda fumega. Não descansará enquanto não estabelecer os seus ensinamentos e a justiça na terra. O servo é escolhido a dedo – “eu te tomei pela mão”. Por fim, o servo recebe uma missão: abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrá-los do cárcere. O Servo Sofredor é alguém que se compadece e sofre com os injustiçados. Jesus se identifica com o Servo de Deus quando apresenta sua missão na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-22).

Salmo responsorial: Sl 28

Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

  1. Segunda leitura: At 10,34-38

Foi ungido por Deus com o Espírito Santo.

A pedido de Cornélio, comandante de um batalhão do exército romano, Pedro foi a Cesareia Marítima para falar sobre Jesus. Cornélio queria conhecer melhor quem era Jesus de Nazaré. Sabia que Jesus tinha sido condenado à morte por Pilatos, mas agora diziam que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Até então Pedro pregava o evangelho apenas para os judeus. Relutava em aceitar o convite de uma família pagã. Mas, na véspera da vinda dos mensageiros de Cornélio foi convencido por uma visão celeste a aceitar o convite (cf. At 10,1-33). Depois das explicações dadas por Cornélio e da visão que teve, Pedro diz: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção de pessoas”. Reconhece na casa de Cornélio e sua família que os pagãos não precisam tornar-se judeus para, só então, se tornarem cristãos: Quem pratica a justiça e teme a Deus é bem acolhido por Ele. Como Cornélio já conhecia bastante sobre Jesus, Pedro apenas diz: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, começando pela Galileia, depois do batismo pregado por João” (v. 37). Os estudiosos reconhecem neste verso o esquema básico dos três primeiros evangelhos. Invertendo a frase, temos: batismo de Jesus, missão na Galileia, viagem a Jerusalém, morte e ressurreição do Senhor. Marcos adotou este esquema geográfico para seu evangelho, seguido depois por Mateus e Lucas. O primeiro anúncio (querigma) se resume à fé em Jesus como o Messias, ungido por Deus pelo Espírito Santo e com poder. O Espírito assim se manifestou na vida de Jesus: Ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele. Pedro fez o melhor elogio de Jesus, Filho de Deus, que passou por este mundo só fazendo o bem. Jesus manifestou o amor misericordioso de Deus, o sumo Bem. – Esta é a missão que todos recebemos quando fomos batizados. Possamos também nós manifestar pela nossa vida e ação a bondade e misericórdia de Deus.

Aclamação ao Evangelho

Abriram-se os céus e fez-se ouvir a voz do Pai:

Eis meu filho muito amado; escutai-o, todos vós!

  1. Evangelho: Lc 3,15-16.21-22

Jesus recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu.

A Igreja celebra hoje a festa do Batismo do Senhor, encerrando o tempo litúrgico do Advento e Natal. No próximo domingo já teremos o 2º domingo do Tempo Comum, ano C. Quando João Batista pregava o Batismo de conversão e anunciava que o reino de Deus estava próximo, muitos se perguntavam se não seria João o Messias esperado. Mas João deixou claro que ele não era o Messias. Ele batizava apenas com água, em sinal do perdão dos pecados. Depois dele viria alguém com mais poder do que ele, isto é, Jesus de Nazaré. Esse, sim, purificará o povo de todos os pecados, porque “batizará no Espírito Santo e no fogo”.

Lucas segue o evangelho de Marcos, com pequenas, mas importantes, modificações. No Evangelho e nos Atos dos Apóstolos, ele divide a “história da salvação” em três tempos: 1. Tempo da promessa: o Antigo Testamento até o batismo de João; 2. O tempo do cumprimento da promessa, em Jesus de Nazaré, até sua ascensão ao céu; 3. E o tempo da Igreja, animado pela ação do Espírito Santo. Por isso, segundo Lucas, Jesus está no meio do povo e “entra na fila” para se batizar. Depois de batizado, já fora da água, põem-se em oração e o Espírito Santo repousa sobre ele como uma pomba; então é que uma voz do céu se faz ouvir: “Tu és o meu Filho, em ti ponho o meu bem-querer”. Assim termina o tempo da promessa e começa o tempo do cumprimento da promessa. Terminada a missão de Jesus aqui na terra (Ascensão), o Espírito Santo repousará sobre os apóstolos e umas 120 pessoas no dia de Pentecostes (At 2), dando início ao terceiro tempo, o da Igreja. Esse é o nosso tempo, tempo de evangelizar e testemunhar nossa fé, numa “Igreja em saída”.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Por que Jesus foi batizado?

Frei Clarêncio Neotti

Quando se fala do Batismo de Jesus, vem a pergunta: “Por que Jesus foi batizado, se não tinha pecado nenhum?” A pergunta se prende ao fato de nós ligarmos o batismo à purificação do pecado original. Mas essa não é a única razão de ser do batismo. E, mesmo que fiquemos com a purificação do pecado, compreende-se que Jesus – “cordeiro de Deus, que carrega os pecados do mundo”, como o chama o Batista, na versão de João Evangelista (1,29) – tenha-se sujeitado ao batismo por causa dos pecados nossos, que ele veio tirar. Nem foi a única vez que Jesus praticou gestos de que não tinha necessidade. Bastaria lembrar o rito da circuncisão (Lc 2,21) ou a apresentação no templo (Lc 2,22-24).

Se a circuncisão tinha como sentido religioso marcar a aliança com Deus (Gn 17,9), de que outra aliança poderia Jesus se lembrar senão a de sua própria filiação? A apresentação no templo era a consagração do primogênito ao serviço de eus (Nm 8,17). E tinha Jesus necessidade dessa consagração, se toda a sua entrada na história humana era um serviço consagrado por excelência? Poderíamos também nos perguntar: por que se sujeitou a uma morte reservada a malfeitores e morreu como se fosse um criminoso?


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

Inauguração da missão do Messias

Frei Almir Guimarães

O Senhor vem se fazer batizar junto com os servos, o juiz junto com os réus.  Que isso não te perturbe, pois é justamente em tais humilhações que a grandeza dele mais resplandece. Por que te surpreenderias com o fato de ele consentir em receber o batismo e se aproximar de seu servidor com os outros, visto que ficou tanto tempo no seio virginal, saiu dele revestido de nossa natureza, deixou-se esbofetear e crucificar, e se submeteu a tantos outros sofrimentos?  O mais estupendo é que ele, sendo Deus, tenha desejado se fazer homem; o resto é apenas  consequência lógica disso.

São João Crisóstomo

Lá estava ele, esse João, conhecido como o “batizador” João Batista.  Estava às margens do Jordão.  Costumava administrar um rito de purificação e de expressão de mudança do coração  que  chamamos de conversão. Levava as pessoas a celebraram nas águas a vontade de mudar. Houve até  quem pensasse que João fosse o Messias.  Havia uma expectativa do povo nesse sentido.  O evangelista procurará  colocar as coisas claras.  João não é Messias e ele diz mesmo  que não é digno de desamarrar as correias de suas sandálias.

João contemplava os que vinham. Iam se adentrando nas águas, molhando os pés, as pernas, o corpo todo e chegando a purificar o ser inteiro, o corpo e o espírito.  Nesse momento o filho da velhice de Isabel e Zacarias prefigurava,  de alguma maneira,  o estilo de pregação de  Jesus: a urgência da conversão,  do doce se transformar em amargo e o amargo, em doce.  Seu batismo era um batismo de conversão.

De repente,  Jesus se associa ao cortejo dos pecadores.  João acha estranho. Não quer aceitar de colocar o gesto de batizar Jesus.  Jesus insiste.  É preciso que tudo se cumpra. Aquele seria o rito e momento de inauguração da  missão do Messias.  Mais tarde o batismo de Jesus seria na água e no Espírito.  Mas agora Jesus queria se associar visivelmente ao cortejo dos pecadores.  Não conhecendo o pecado se juntou aos pecadores.

Santo Efrém  escreve  como que um diálogo entre João e Jesus. Assim fala  Jesus: “Pelo meu batismo é que as águas serão santificadas recebendo de mim  o fogo e o Espirito. Se eu não receber o batismo nas águas elas  não terão o poder de gerar  filhos imortais. É absolutamente   necessário que me batizes, sem discussão, como te ordenei.  Eu te batizei no seio materno;  batiza-me no Jordão”.  Belas, da mesma maneira, as palavras que Efrém coloca nos lábios do Batista:  “Sou um servo totalmente indigente. Tu, que a todos libertas, tem piedade de mim. Não sou digno sequer de desatar as correias de tuas sandálias. Quem me tornará digno de tocar tua sublime cabeça?  Obedeço  Senhor, segundo a tua palavra; vem, pois, ao batismo ao qual o teu amor te impele. Com suma veneração, o homem pó se vê chegar ao extremo de impor a mão àquele que o plasmou”.

“Quando todo o povo  estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E enquanto rezava o céu se abriu e o Espírito  Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem querer”. A partir desse momento Jesus começará sua vida pública, seu ministério. Os céus se rasgam e o Pai  unge o  Filho amado.  Nele  o Pai coloca todo o seu agrado e a partir desse momento  Jesus haverá de falar.  O Filho amado do Pai vai começar a falar e felizes os que ouvirem a sua palavra ungida.  Os discípulos de Jesus haverão de colocar como ponto de honra de seu viver escutar o Filho amado do Pai.

“A experiência  vivida  por Jesus  ao ser batizado  é modelo de toda experiência  cristã de Deus. Quando em algum momento de nossa vida  – cada qual sabe o seu  –  “o céu se rasga” e as trevas nos permitem ver algo do mistério que nos envolve, o cristão,  da mesma forma  que Jesus, só ouve uma voz que pode transformar  sua vida inteira; “Tu és o meu filho amado”. No futuro   será difícil haver cristãos que  não tenham tido a  experiência  pessoal  de sentir-se filhos amados de Deus”  (Pagola, Lucas p.  66).

Quanta profundidade  nessas reflexões de  Pedro Crisólogo  sobre a festa do batismo do Senhor: “ Hoje o Espírito Santo, em forma de pomba, paira sobre as águas:  assim como uma pomba anunciou a Noé o fim do dilúvio, por sua presença os homens saberiam que havia terminado o ininterrupto naufrágio do mundo. Esta pomba não trouxe, como a outra, um ramo da antiga oliveira, mas derramou sobre a cabeça do Senhor, toda a riqueza do novo óleo,   cumprindo assim  o que o profeta anunciara:  “É por isso  que  Deus te ungiu  com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos (Sl 44,8)”  (Lecionário Monástico I, p. 458).

A partir desse momento Jesus não voltará mais para  Nazaré, nem permanecerá com os discípulos do Batista.  Ele é o  Filho Amado do Pai que vai realizar sua missão evangelizadora.  Ninguém poderá segura-lo.  Para isso ele veio?


Textos  para a reflexão

 Que batismo é este?

Hoje o Cristo é batizado no Jordão. Que batismo é este, em que o batizado é mais puro do que que a fonte?  Onde a água que lava o corpo não se torna impura, mas enriquecida de bênçãos?  Que batismo é este o do Salvador, no qual as águas, em vez de purificar, são purificadas?  Num novo gênero de santificação,  a água não lava,  mas é lavada.  Desde o momento em que imergiu na água, o Salvador  consagrou todas as fontes no mistério do batismo, para que todo aquele que desejar ser batizado  em nome do Senhor seja lavado não pela água do mundo, mas purificado pela água de Cristo.  Assim,  o Salvador  quis ser batizado não visando adquirir pureza para si, mas a fim de purificar as águas para nós.

São Máximo de Turim, Lecionário Monástico  I, p.526-527


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

Para que crer?

José Antonio Pagola

São muitos os homens e as mulheres que um dia foram batizados por seus pais e hoje não saberiam definir exatamente qual é sua postura diante da fé. Talvez a primeira pergunta que surge em seu interior seja muito simples: Para que crer? A vida muda alguma coisa pelo fato de crer ou não crer? Serve a fé realmente para alguma coisa?

Estas perguntas nascem de sua própria experiência. São pessoas que, pouco a pouco, foram empurrando Deus para um canto de sua vida. Hoje Deus não conta absolutamente para elas na hora de orientar e dar sentido à sua existência.

Quase sem elas se darem conta, um ateísmo prático foi se instalando no fundo de seu ser. Essas pessoas não preocupam que Deus exista ou deixe de existir. Tudo isso lhes parece um problema estranho que é melhor deixar de lado para assentar a vida sobre bases mais realistas.

Deus não lhes diz nada. Acostumaram-se a viver sem ele. Não experimentam nostalgia ou vazio algum por sua ausência. Abandonaram a fé e tudo em sua vida corre bem, ou melhor do que antes. Para que crer?

Esta pergunta só é possível quando alguém “foi batizado com água”, mas não descobriu o que significa “ser batizado com o Espírito de Jesus Cristo”. Quando alguém continua pensando erroneamente que ter fé é crer uma série de coisas muito estranhas, que nada têm a ver com a vida, e não conhece ainda a experiência viva de Deus.

Encontrar-nos com Deus significa saber-nos acolhidos por Ele no meio da solidão, sentir-nos consolados na dor e na depressão, reconhecer-nos perdoados do pecado e da mediocridade, sentir-nos fortalecidos na impotência e na caducidade, ver-nos impulsionados a amar e criar vida no meio da fragilidade.

Para que crer? Para viver a vida com mais plenitude, para situar tudo em sua verdadeira perspectiva e dimensão, para viver inclusive os acontecimentos mais triviais e insignificantes com mais profundidade.

Para que crer? Para atrever-nos a ser humanos até o fim; para não sufocar nosso desejo de vida até o infinito; para defender nossa liberdade sem entregar nosso ser a qualquer ídolo; para permanecer abertos a todo o amor, a toda a verdade, a toda a ternura que existe em nós. Para não perder nunca a esperança no ser humano, nem a vida.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

Tomado do meio do povo e enviado por Deus

Pe. Johan Konings

Às vezes se percebe, na Igreja, certo conflito entre os agentes de evangelização que procuram inserir-se nas lutas do povo e os que tentam puxar o povo para a igreja, para rezar. Será que, necessariamente, essas duas coisas são incompatíveis?

Com trinta anos de idade, Jesus se deixou batizar por João Batista (evangelho). Ele aderiu ao movimento de conversão lançado por João. Nem todos os judeus aderiam a esse movimento. Os fariseus e os sacerdotes o criticavam. Mas os pecadores, os publicanos, os soldados e as prostitutas, estes se deixavam purificar por João, para poderem participar do Reino de Deus. E também Jesus, solidário com os que se queriam converter, se deixou batizar. Batizado assim junto com todo o povo e encontrando-se em oração – encontrando-se junto a Deus no meio do povo – Jesus ouviu a voz: “Tu és o meu filho amado, em ti encontro o meu agrado”. E recebeu o Espírito de Deus, para cumprir a sua missão, para anunciar a boa-nova do Reino aos pobres e libertar os oprimidos (1ª leitura). Deus o chamou e o enviou, exatamente, no momento em que ele vivia em total solidariedade com o povo e com Deus mesmo. Por isso, enviado por Deus do meio do povo, ele podia ser o libertador desse povo.

Houve um tempo em que a Igreja não entendia bem essas coisas. Considerava o povo como mero objeto de evangelização. Mandava evangelizadores que não viviam em solidariedade com o povo; havia até padres que sentiam nojo, não só do pecado como também do pecador … Nossa Igreja redescobriu a importância de seus evangelizadores viverem solidários com os que devem ser evangelizados, sentirem seus problemas e dificuldades … e sua boa vontade. Mas, para poderem transmitir a sua mensagem evangelizadora, é preciso também que estejam perto de Deus e, na oração, escutem a sua voz. E isso vale não só para os padres e os religiosos, mas para todos os que Deus quiser enviar para levar sua palavra a seus irmãos: catequistas, ministros leigos, líderes, pessoas que ocasionalmente têm que transmitir um recado de Deus … Têm de ser solidários com o povo e unidos a Deus. Então, seu batismo – ao modelo do batismo de Jesus – será realmente a base de sua missão.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Todas as reflexões foram tiradas do site www.franciscanos.org.br

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