Primeiro domingo do Advento

Prestem atenção! Não fiquem dormindo, porque vocês não sabem quando vai ser o momento. (Mc 13,33)

O que significa manter-se acordado?

Frei Gustavo Medella

O sono, para qualquer ser vivo, tem função restauradora. É o descanso necessário ao organismo a fim de que conserve sua saúde, seu equilíbrio e seu bem-estar. Dormir não é um privilégio ou um luxo, mas um direito e uma necessidade fisiológica. Certamente, ao se utilizar da metáfora do sono no Evangelho deste I Domingo do Avento (Mc 13,33-37), Jesus não se refere à necessidade biológica comum a todos os viventes.

Sono, neste caso, designa muito mais uma postura de fechamento em si e de egoísmo que impede ao ser humano de fazer uma experiência profunda de Deus nos dias que lhe foram concedidos neste mundo. Viver apenas em função dos próprios interesses, buscar sempre levar vantagem em toda e qualquer situação e fechar-se ao apelo de quem sofre são posturas que afastam o ser humano da consciência da própria finitude e o impedem de olhar além, contemplando, pela fé, um horizonte de uma eternidade feliz junto a Deus.

Manter-se acordado significa, então, entregar-se com coragem à direção do Espírito, na certeza de que o Senhor está próximo, no tempo e no espaço, inspirando sempre as melhores atitudes de solidariedade, doação de si e amor, sintetizadas por Ele na imagem singela de um menino envolto em panos rudes sobre um ninho de palha seca. Tornar-se criança frágil foi o melhor modo que Aquele que tem o poder de “derreter as montanhas” (Cf. Is 64,2) encontrou para ensinar àqueles a quem ama absolutamente o caminho da vigilância, da perseverança e da paz.

“A luz de Cristo, que esperamos neste Advento, enxugue todas as lágrimas, acabe com todas as trevas, consolem quem está triste e encha nossos corações da alegria de preparar sua vinda neste novo ano de graça!” (Oração para o acendimento da primeira vela da Coroa do Advento)


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

 

Primeiro domingo do Advento, ano B

Reflexões do exegeta Frei Ludovico Garmus

 Oração: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”.

  1. Primeira leitura: Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7

Ah! Se rompesses os céus e descesses!

Esta linda oração, que se dirige a Deus chamando-o de Pai, brotou do coração da comunidade de judeus, exilados na Babilônia há mais de 50 anos. As promessas de um retorno à Terra Prometida, feitas pelos profetas Ezequiel e um discípulo do profeta Isaías (Is 40–55) pareciam demorar demais para se cumprirem. Por isso, a oração expressa certa impaciência e, ao mesmo tempo, confiança filial, porque se dirige a Deus como “nosso Pai’. A oração é um misto de lamentação penitencial e de súplica ardente. É um pedido a Deus para que apresse sua intervenção libertadora, prometida pelos profetas: “Ah! se rompesses os céus e descesses!” Era verdade que Ezequiel contava uma visão que teve na Babilônia. Dizia que Deus seria novamente adorado no templo de Jerusalém e, como um pastor cuida de suas ovelhas, ele mesmo tomaria conta do seu povo disperso no exílio (Ez 34). E um discípulo do profeta Isaías dizia que, ainda que uma mãe pudesse esquecer seu filho, Deus jamais haveria de esquecer seu povo (Is 40,14-15). Mas na leitura de hoje, extraída dos capítulos 63 e 64 de Isaías, o profeta pede em sua oração que Deus rompa o silêncio e comece a cumprir as promessas: “Tu és nosso oleiro e nós todos somos obra de tuas mãos”. É um veemente apelo, um pedido cheio de fé e esperança em Deus que cria e renova a história de seu povo. A figura do oleiro lembra Deus como oleiro, capaz de refazer um vaso que se estragou (Jr 18,1-10), que do barro formou o ser humano frágil e limitado (Gn 2,7) e com dedos de artista modelou o sol, a lua e as estrelas (Sl 8,4). É um apelo do povo pecador a Deus que cria um novo céu e uma nova terra (Is 66,22). E Deus nos responde pelo seu Filho Jesus Cristo: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). O clamor do povo pede que Deus “volte atrás”, “arrependa-se” do mal causado ao seu povo. Por outro lado, o povo está consciente que deve arrepender-se de seus maus caminhos e voltar a ser fiel ao seu Deus, praticando com alegria a justiça.

Salmo responsorial: Sl 79

 Iluminai a vossa face sobre nós,

convertei-nos para que sejamos salvos.

  1. Segunda leitura: 1Cor 1,3-9

Esperamos a revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Paulo, ao escrever à comunidade dos coríntios, alegra-se com a graça que Deus lhes concedeu pela sua pregação do Evangelho. Era uma pregação animada pela fé e esperança na vinda próxima do Senhor. Deus é fiel e salvará quem ele chamou a viver em comunhão com seu Filho, Jesus Cristo. Paulo reza para que eles perseverem firmes na fé, até a revelação plena de Jesus Cristo, por ocasião de sua segunda vinda.

Aclamação ao Evangelho

Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade,

e a vossa salvação nos concedei!

  1. Evangelho: Mc 13,33-37

Vigiai: não sabeis quando o dono da casa vem.

Domingo passado, com a Solenidade de Cristo Rei do Universo, encerrou-se o ciclo A do Ano Litúrgico. Com o 1º Domingo de Advento entramos no ciclo B do Ano Litúrgico. No ano B as leituras do Evangelho serão, em geral, tiradas do Evangelho de Marcos. Como Mateus, também Marcos conclui as narrativas da atividade de Jesus com o discurso escatológico (cf. Mt 24–25; Mc 13,1-37). Hoje ouvimos a parábola sobre a vigilância diante da incerteza da vinda do Filho do Homem encerra o discurso escatológico de Jesus em Mc 13,33-37. Jesus estava com seus discípulos no alto do Monte das Oliveiras e um deles disse: “Mestre, olha que pedras e que construções!” E Jesus comentou: “Vês estas grandes construções? Não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído”. Outros discípulos lhe pediram: “Dize-nos, quando será isso e qual é o sinal de que tudo isso vai acabar?” Na resposta de Jesus misturam-se o tema da destruição do Templo e o do fim do mundo. Mas sobre o quando do fim do mundo Jesus diz: “Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,32). Hoje ouvimos apenas a conclusão do discurso escatológico (Mc 13,33-37). Uma vez que ninguém sabe quando acontecerá o fim do mundo, Jesus ensina com uma pequena parábola o que devemos fazer enquanto o Senhor não vem. Na parábola o patrão se ausenta por tempo indeterminado. Por isso escolhe o vigia para vigiar a porta e distribuir tarefas para cada um dos empregados. Durante sua ausência (parábola dos talentos e a parábola das dez virgens), eles devem cumprir as tarefas que lhes foram confiadas pelo patrão, e ficar atentos porque não sabem quando o patrão voltará. O que não pode acontecer é o patrão os encontrar dormindo. O que Jesus disse aos seus discípulos, Marcos lembra que vale o mesmo para o seu tempo, para todos os tempos: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai”!

O tempo da ausência do patrão é o tempo entre a primeira vinda de Cristo (Natal) e a segunda vinda, no fim dos tempos, como juiz dos vivos e dos mortos. É o que lembramos na profissão de fé: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai (…), donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Vigilantes, esperamos com alegria a primeira vinda do Salvador (1ª leitura), mas também sua segunda vinda como juiz (2ª leitura). – Na celebração da Eucaristia, ao final da consagração, o sacerdote diz: “Eis o mistério da fé!” E os fiéis respondem: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”! – Esta é a nossa fé.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Como um porteiro que abre portas

Frei Clarêncio Neotti

Podemos ler o evangelho do primeiro domingo do Advento de duas maneiras. Uma, olhando para a chegada de Cristo no tempo. Ele ali estava. Ele, o Messias, com todos os sinais preditos pelos Profetas. Mas os fariseus e os escribas (os chefes intelectuais) não percebiam, não viam: eram como porteiros que dormiam e, por isso, não enxergavam as coisas maravilhosas que Deus estava fazendo (Mc 7,37). Além de perderem o sentido da história, frustravam os benefícios da chegada do Senhor. A lição seria esta: ficar atento a todos os sinais da presença de Deus e colaborar com ele, facilitando a passagem do Cristo, como um porteiro, que abre portas.

Pode-se ler o episódio também com sentido escatológico, isto é, olhando para o fim dos tempos, ou seja, para o momento de nossa morte biológica, que é, afinal, para cada um de nós o fim dos tempos e o começo da eternidade. Ninguém tem dúvida de que, mais dia menos dia, chegará sua hora de morrer. Ignoramos, porém, qual seja essa hora. Olhando para esse momento certo e incerto ao mesmo tempo, Jesus nos preveniu de outra verdade, que nossos sentidos e nossa inteligência desconhecem: ele virá ao nosso encontro na hora da morte e nos quer encontrar prontos para partir com ele.

Essa prontidão é chamada de vigilância. Um misto de estar acordado, estar atento e estar preparado para reagir. A vigilância, portanto, não é uma atitude passiva, mas dinâmica, que envolve todo o nosso ser embebido em fé e esperança, todo o nosso fazer honesto e misericordioso. A vigilância não é uma sala de espera, mas um caminho andado com o coração voltado para o Senhor.


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

Tudo começa de novo: Advento

Frei Almir Guimarães

Advento. Tempo novo na vida da Igreja. Muitos passamos as estações do Mistério de Cristo na Sagrada Liturgia no ano que finda no isolamento. Vivemos um ano atípico. Coração cheio de apertos, de perguntas, de dúvidas. Talvez de intimidade conosco e com o Senhor. Fomos obrigados a parar. Um tempo de retiro e de “mortes” a nossos desejos e projetos. Conseguimos calma? Que será nossa vida nos tempos de pós-pandemia? Agora o tempo de advento. “Vem, Senhor, vem sem tardar”. Olhar para o horizonte. Tempo de esperança, tempo de aguardar. Começar tudo de novo. Debruçarmo-nos sobre o Mistério de Cristo do começo ao fim. Sede na garganta. Grito de socorro. Vem, Senhor.

Isaías nos fala como um lamento. Há uma queixa. Parece que Deus esqueceu dos seus. O profeta constata também que os corações foram se tornando insensíveis. Sentimento de abandono de Deus por parte do homem. Seres vagando em caminhos cheios de cerração. O homem dá-se conta que suas roupas estão manchadas. Assemelha-se ele a folhas murchas. Seus pecados são levados como folhas ao vento. Há uma delicada e pungente súplica de perdão.

Deus belo e bom mora em nós. As nuvens do céu não precisarão chover. Ele já vive em nosso mistério pessoal nos amando desmedidamente. Um sentimento de contrição, é claro, toma conta de nós nesse tempo de advento. Pessoal e comunitariamente se faz urgente ter um coração de carne e deixarmos de sermos seres empedrados e endurecidos pela maldade à nossa volta e à insensibilidade de nosso interior. Isaias pede que Deus não nos abandone. “Vós sois o nosso pai, nós somos a argila da qual sois o oleiro. Todos nós fomos modelados por vossas mãos”. Belo propósito do Advento: não dificultar a ação do Senhor em nós. Somos o barro e ele é o oleiro. Um sentimento delicado de contrição tem que ser o ar a respirar.

Esperamos a manifestação de Nosso Senhor Jesus. Paulo assim afirma. Mais uma vez Deus está para se manifestar no Natal. Ficamos chocados com a fragilidade de Deus. Ele deixa sua onipotência. Torna-se uma criancinha pedindo o peito da mãe, amiguinhos para brincar, roupinhas para se vestir, água para beber. Manifestação inesperada que vai culminar no ser sedento no alto de um madeiro, nu e despojado. Os milagres… não são tão importantes. Importante na vida é o milagre do amor. Caminhar para o Natal e extasiar-se diante do Deus nas palhas, que tanto encantou a Francisco de Assis. Um Deus que olha para nós a dizer: “Eu te quero tanto bem, todo bem”.

O evangelho nos coloca diante do delicado tema vigilância, típico dessa época do ano. Não brincar com o tempo passa. O guarda caminha de um lado para o outro espiando a entrada da casa e os transeuntes na rua. Não pode dormir. Ao escutar o assobio do vento cuida para saber se não é a voz de alguém. Seu ouvidos são aguçados. Seu olhar impaciente. Vigilância em nossa vida de todos dias, ou seja, preparar os caminhos do Senhor.

Verificar se não estamos perdendo o gosto pelo Evangelho. Continuamos fiéis oração de entrega? Será que nossa distância do Evangelho não se deve à falta de interiorização, de silêncio, de meditação? Será que a nossa fé criou raízes ou é simplesmente uma fluida religiosidade? Vigiar.

Será que não é necessário verificar o andamento de nossa vida de família, todos juntos, mas com o coração alhures, essas farpinhas entre sogras, genros e noras e outros. Vigiar para que o clima não se deteriore. Vigiar e verificar se em nossa casa há espaço para acolher o Mistério. Vigiar

Verificar se o nosso coração não anda se deslumbrando com ilusões: dinheiro, fama, amantes. Tempo de advento, tempo de vigilância.


Advento: tempo de aguçar a sede:

“A sede é um patrimônio biográfico que somos chamados a reconhecer e a agradecer. Ela vem conosco desde a infância, acompanha os nossos anos de formação, irrompe de forma diversa na forma adulta e amadurece ao mesmo tempo do que nós, envelhece, muda de nome e de sentido e persiste. A sede é a roda do oleiro onde Deus nos molda, é o interior das mãos amorosas de Deus buscando formas novas de dizer a vida, é a pele de Deus tocando o vaso que somos. Talvez não tenhamos ainda agradecido a Deus a nossa sede, o bem, o caminho e as fontes que através dela Deus tem feito chegar à nossa vida. Coloquemos em Deus a nossa sede” (José Tolentino Mendonça).


Vigilância

Não basta defender o nosso pequeno bem-estar:

“Um dos riscos que nos ameaçam hoje é cair numa vida superficial, mecânica, rotineira… Não é fácil escapar. Com o passar dos anos, os projetos, as metas, os ideais de muita gente acabam por apagar-se. Não poucos acabam levantando-se cada dia “só para ir levando a vida”. O apelo de Jesus à vigilância nos chama a despertar da indiferença, da passividade e do descuido com que vivemos frequentemente nossa fé. Para vive-la de maneira lúcida precisamos conhece-la mais profundamente, confrontá-la com outras atitudes possíveis perante a vida e procurar vive-las com todas as suas consequências. É muito fácil viver dormindo. Basta fazer o que todos fazem: imitar, amoldar-nos, ajustar-nos ao que está na moda. Basta viver buscando segurança externa ou interna. Basta defender o nosso pequeno bem-estar enquanto a vida vai se apagando em nós” (José Antonio Pagola).


Será que andamos dando flores?
Um maneira de andarmos despertos
Exame de consciência

Senhor,
será que vivemos a jornada de hoje
de acordo com os teus desejos?
Prestamos atenção aos que se aproximaram de nós?
Respondemos à esperança e expectativa
que eles depositaram em nós?
Abraçamos os que choravam?
Sorrimos de ternura até que eles, por sua vez,
também começassem a sorrir?
Demos flores antes de dar pão?
Podemos dizer, Senhor, que fizemos “explodir”
a tua alegria em nosso rosto diante deles?
Fomos irmãos para nossos irmãos?
Se assim não fizemos que te dignes de nos perdoar.
Mesmo que tenhamos tudo isso,
certamente não foi o suficiente.
Dia a dia incendeia nosso coração de amor.


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

Sempre é possível reagir

José Antonio Pagola

Nem sempre é o desespero que destrói em nós a esperança e o desejo de continuar caminhando diariamente cheios de vida. Ao contrário, poder-se-ia dizer que a esperança vai se diluindo em nós quase sempre de maneira silenciosa e quase imperceptível.

Talvez sem dar-nos conta, nossa vida vai perdendo cor e intensidade. Pouco a pouco parece que tudo começa a ser pesado e tedioso. Vamos fazendo mais ou menos o que temos que fazer, mas a vida não nos “satisfaz”. Um dia comprovamos que a verdadeira alegria foi desaparecendo de nosso coração. Já não somos capazes de saborear o que há de bom, de belo e de grande na existência.

Pouco a pouco tudo foi se complicando para nós. Talvez já não esperemos grande coisa da vida nem de ninguém. Já não cremos nem sequer em nós mesmos. Tudo nos parece inútil e quase sem sentido.

A amargura e o mau humor se apoderam de nós cada vez com mais facilidade. Já não cantamos. De nossos lábios não saem senão sorrisos forçados. Faz tempo que não conseguimos rezar.

Talvez comprovemos com tristeza que nosso coração foi se endurecendo e hoje não amamos quase ninguém de verdade. Incapazes de acolher e escutar os que encontramos diariamente em nosso caminho, só sabemos queixar-nos, condenar e desqualificar.

Pouco a pouco fomos caindo no ceticismo, na indiferença ou na “preguiça total”. Tendo cada vez menos forças para tudo o que exige verdadeiro esforço e superação, já não queremos correr novos riscos. Não vale a pena. Preocupados com muitas coisas que nos pareciam importantes, a vida nos foi escapando. Envelhecemos interiormente e algo está a ponto de morrer dentro de nós. O que podemos fazer?

A primeira coisa é despertar e abrir os olhos. Todos estes sintomas são indício claro de que temos a vida mal projetada. Esse mal-estar que sentimos é o toque de alarme que começou a soar dentro de nós.

Nada está perdido. Não podemos de repente sentir-nos bem conosco mesmos, mas podemos reagir. Precisamos perguntar-nos o que é que descuidamos até agora, o que é que precisamos mudar, a que devemos dedicar mais atenção e mais tempo. As palavras de Jesus são dirigidas a todos: “Vigiai!” Talvez devamos tomar hoje mesmo alguma decisão.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

Estar pronto para Cristo

Pe. Johan Konings

Começa o Advento, início do novo ano litúrgico (ano B). Na 1ª leitura, o profeta Isaías provoca Deus a “rasgar o céu”e a descer para nos salvar. Estamos murchos como folhas mortas. E, contudo, Deus é nosso Pai, nós somos obras de suas mãos.

Como o povo humilhado, no tempo do exílio babilônico, fazemos nosso o desejo de que Deus venha nos socorrer.

Encontrar-se com Deus não é motivo de terror, mas de esperança. Se nos voltarmos para ele, ele se voltará para nós.

Na 2ª leitura, Paulo nos assegura que Deus nos fortalecerá até o fim, quando Cristo abrirá o céu e descerá para nos fazer entrar em sua glória. O encontro definitivo com Deus significa para o cristão a plena manifestação daquilo que Cristo iniciou.

O evangelho, todavia, adverte: não sabemos quando o Senhor voltará para pedir contas do serviço que ele deixou em nossas mãos. Por isso, convém vigiar. A ressurreição de Jesus é como a viagem de um empresário. Enquanto ele está fisicamente longe somos nós os responsáveis por sua obra. Ora, a obra que Jesus iniciou e levou a termo, até a morte, foi a obra da justiça e do amor fraterno. Quando nos empenhamos por isso, sua obra acontece. A causa de Deus é causa nossa. Devemos sempre estar preocupados com o amor fraterno, que Jesus deixou aos nossos cuidados e do qual ele mesmo deu o exemplo até o fim.

O ano litúrgico é o espelho de nossa vida. Desde o início, coloca-nos na presença permanente de Deus como sentido último de nossa vida, a cada momento. Põe diante de nossos olhos a vocação final: o encontro com Cristo na glória de seu pai. Nesta perspectiva, sentimo-nos obra inacabada, mas em Cristo temos o exemplo e a garantia do acabamento que Deus nos quer conferir: uma vida doada no amor até o fim. Jesus, ressuscitado e vivo na glória do Pai, quer vir até nós, para completar a obra do Pai em nós e nos aperfeiçoar no amor fraterno, com a condição de sermos encontrados empenhados no serviço que ele nos confia.

Advento é preparação para Natal, celebração da vinda de Jesus no meio de nós. Vinda no presépio, mas também vinda no dia-a-dia e no encontro definitivo. Advento significa que nos preparamos para nos encontrar com ele, na alegria, cuidando do amor que ele veio aperfeiçoar em nós.

Deus nos respeita tanto que conta com a nossa colaboração; a salvação não vem só de um lado. Em Jesus, ele nos mostrou em que consiste sermos salvos: em sermos como Jesus, agora, na vida terrena, e eternamente, na glória. Essa é a parte da salvação que Deus realiza. A nossa parte é: estarmos prontos, acatarmos sua obra, no amor disponível e eficaz de cada dia. Muitos hoje, se sentem abandonados, deprimidos. Existe até uma indústria da depressão, procurando vender remédios antidepressivos…

“Há alguém que se preocupe comigo?”, pergunta o deprimido. Mas talvez ele não se prontifique para encontrar. Aquele que transforma nossa vida debilitada em esperança engajada… Por isso, a liturgia de hoje nos ensina a correr ao seu encontro!


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

 

Veja a reflexão em vídeo: Caminhos do Evangelho | 1º Domingo do Advento - Ano B

 
 

Todas as reflexões foram tiradas do site: https://franciscanos.org.br/

Dúvidas? Entre em contato
91 3425-1108

Praça da Catedral, n° 368. Centro. Bragança-Pará.

secretario@diocesedebragancapa.org.br

Boletim de Notícias

Deixe seu e-mail para ser avisado de novas publicações