Quinto Domingo da Páscoa

Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta - Jo 15,1-2.

 

Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella: Caminhos do Evangelho | 5º Domingo da Páscoa

 

Fé estéril

José Antonio Pagola

A imagem é realmente expressiva. Todo ramo que está vivo deve produzir fruto. E, se não produz, é porque não circula por Ele a seiva da videira. Assim é também nossa fé. Vive, cresce e dá frutos, quando vivemos abertos à comunicação com Cristo. Se esta relação vital se interrompe, cortamos a fonte de nossa fé.

Então a fé seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura do que os primeiros crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade
evangélica para descobrir as novas exigências do Espírito, não estão delatando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?

Por paradoxal que possa parecer, o vazio interior pode apoderar-se de mais de um cristão. Preso numa rede de relações, atividades, ocupações e problemas, o cristão pode sentir-se mais só do que nunca em seu interior, incapaz de comunicar-se vitalmente com esse Cristo em quem diz crer.

Talvez a derrota mais grave do homem ocidental seja sua incapacidade de vida interior. Parece que as pessoas vivem sempre fugindo. Sempre de costas para si mesmas. Diríamos que a alma de muitos é um deserto.

A falta de contato interior com Cristo como fonte de vida conduz pouco a pouco a um “ateísmo prático”. Não adianta continuar confessando fórmulas, se a pessoa não conhece a comunicação calorosa, prazerosa e revitalizadora com o Ressuscitado. Essa comunicação de quem sabe desfrutar do diálogo silencioso com Ele, alimentar-se diariamente de sua palavra, lembrar-se dele com alegria no meio do trabalho cotidiano, ou descansar com Ele nos momentos de abatimento e opressão.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

5º Domingo da Páscoa 

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

Oração: “Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a liberdade verdadeira e a herança eterna”.

  1. Primeira leitura: At 9,26-31

Contou-lhes como tinha visto o Senhor no caminho.

Domingo passado ouvimos o discurso de Pedro, explicando ao povo que o paralítico foi curado em nome de Jesus de Nazaré, “aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos”. Na leitura de hoje Lucas nos apresenta Paulo, o futuro evangelizador dos gentios. Paulo, que antes aprovou o apedrejamento de Estêvão e perseguia os cristãos, agora volta a Jerusalém, convertido a Cristo, e procura juntar-se à comunidade cristã. Mas em Jerusalém é visto com desconfiança. Barnabé, de origem grega como Paulo, apresentou-o aos apóstolos e “contou-lhes que Paulo tinha visto o Senhor no caminho” e falou de sua “coragem em anunciar o nome Jesus em Damasco”. Então Paulo foi acolhido pela comunidade de Jerusalém e começou a pregar com entusiasmo aos judeus de origem grega; estes, porém, queriam matá-lo, como o fizeram com Estêvão. Mas os irmãos de fé o puseram a salvo, encaminhando-o a Cesareia Marítima e, depois, a Tarso, sua cidade natal. Lucas quer assim mostrar Paulo como alguém que está em comunhão com a Igreja-mãe de Jerusalém. A versão de Paulo sobre sua conversão e missão entre os pagãos é um pouco diferente (Gl 1,18-21). Ele diz que, em Jerusalém, “viu” apenas Pedro. Com isso afirma que sua maneira de pregar o evangelho era aprovada pelo chefe dos apóstolos. Paulo, portanto, estava unido à Igreja-mãe, como o ramo que produz fruto está unido à videira (evangelho, v. 5). Por isso, seu trabalho missionário rendeu muitos frutos para a Igreja nascente.

Salmo responsorial: Sl 21

Senhor, sois meu louvor

em meio à grande assembleia!

  1. Segunda leitura: 1Jo 3,18-24

Este é o seu mandamento:

que creiamos e nos amemos uns aos outros.

O autor desta carta insiste no que é essencial da vida cristã: nossa fé em Jesus Cristo e a vivência do amor fraterno. Nisto se resumem os mandamentos que devemos observar para agradar a Deus (evangelho). Não basta dizer que amo a Deus. É preciso concretizar esse amor, amando de verdade os irmãos: “Não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade”! O que nos liga a Deus é a vivência da fé em Cristo e a observância do amor fraterno: “Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele”. Assim, como os ramos ligados à videira de Deus (evangelho), produziremos muitos frutos.

Aclamação ao Evangelho:

Ficai em mim, e eu em vós hei de ficar, diz o Senhor;

quem em mim permanece, esse dá muito fruto.

  1. Evangelho: Jo 15,1-8

Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto.

Na alegoria da videira, o evangelho explicita a união de Jesus com o Pai e nossa união com Deus, enquanto estamos unidos com Jesus. No Antigo Testamento Israel é comparado à videira – a vinha que, apesar de bem cuidada por Deus, não produziu os frutos dela esperados (cf. Is 5,1-7). No texto que ouvimos, Jesus se compara à videira verdadeira que pertence a Deus, o agricultor. Jesus é de Deus. Dele são também os ramos, isto é, os fiéis, enquanto estão ligados a Jesus. Pela palavra de Jesus (v. 3), o Pai como agricultor faz a limpeza da vinha, podando-a; corta fora os ramos sem vida e limpa os ramos que têm seiva, para que produzam mais frutos. O cristão produz bons frutos enquanto recebe a seiva da videira, isto é, deixa-se conduzir pelas palavras de Jesus. Por isso, para produzir bons frutos é necessário estar ligado a Cristo: “Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer”. Permanecendo em Jesus e nas suas palavras (o mandamento do amor), nos tornamos seus discípulos e glorificamos o Pai. Ele é o agricultor que se alegra com os bons frutos produzidos pelos ramos ligados à videira, que é seu Filho Jesus. O fruto que o Pai espera de nós é a fé, que nos liga a Cristo, e a observância do mandamento do amor, que nos une a Cristo e aos irmãos.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Somos o prolongamento de Cristo

Frei Clarêncio Neotti

A figura da videira para simbolizar o povo não era estranha. Haviam-na usado Isaías (5,1-7), Jeremias (2,21) e Ezequiel (15,1-8). Jeremias, pregando contra a idolatria, põe na boca de Deus esta queixa com referência ao povo: “Eu te havia plantado como vinha excelente, toda de cepas legítimas. Como te degeneraste em ramos de uma vinha bastarda?” (2,21). Muitas vezes, no Antigo Testamento, Deus é comparado ao agricultor atento e carinhoso.

Jesus colhe a velha comparação e a refaz. Deus é o agricultor. A videira agora é ele; a melhor cepa possível, que produzirá os melhores frutos, que são inteiramente do gosto e agrado do Pai. Dessa videira o Pai jamais se queixará.

Pela Paixão e Ressurreição de Jesus nós fomos enxertados no tronco. Agora fazemos parte da nova videira. Enquanto estivermos inseridos no tronco como os sarmentos na cepa, é certo que também nossos frutos serão agradáveis a Deus, porque a seiva, a vida do Cristo-tronco é a mesma que corre em nós-ramos.

É assim que somos o prolongamento de Cristo. Somos um com o Cristo também em nossas obras. Como Cristo é um com o Pai em todos os passos de sua vida terrena. Essa verdade, na qual Jesus tanto insistiu, é das que mais devem despertar nossa confiança nele e nosso esforço por conformar nossos pensamentos, palavras, planos e ações à sua maneira de agir.


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

Os ramos da videira

Frei Almir Guimarães

A fé só dá frutos quando vivemos dia a dia unidos a Cristo, isto é, motivados e sustentados por seu Espírito e sua Palavra: Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito, porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15,6)

Estamos no discurso de Jesus após a ceia, segundo João. Jesus vai se revelando. Israel era uma vinha querida por Deus. O povo, no entanto, produziu uvas ácidas. Jesus agora se diz a verdadeira videira. Ele é fruto de um árvore nobre, a árvore da cruz. Celebramos cotidianamente sua Ressurreição. Ele vive e nos toca. Os discípulos são convidados a viver da seiva de Cristo. Há uma circulação de vida entre o Mestre e os discípulos. Não adianta proclamar a verdade de Jesus e de sua ressurreição se sua vida não circula em nossa vida. Estamos diante do tema da intimidade, da frutificação, da criação de liames concretos com o Senhor. Vida…. circulação de vida.

Quando não há circulação “a fé é seca. Já não é capaz de animar nossa vida. Converte-se em confissão verbal vazia de conteúdo e de experiência viva. Triste caricatura daquilo que os primeiros crentes viveram ao encontrar-se com o Ressuscitado. Digamos sinceramente, será que esta ausência de dinamismo cristão, essa incapacidade de continuar crescendo em amor e fraternidade com todos, essa inibição e passividade para lutar arriscadamente pela justiça, essa falta de criatividade evangélica para descobrir as novas exigências do Espírito não estão mostrando uma falta de comunicação viva com Cristo ressuscitado?” (Pagola, João, p. 218).

Fala-se muito em permanência. Em poucos versículos o termo aparece sete vezes. “Um detalhe interessante, que não é um detalhe para São João, é o uso do verbo “permanecer” que é a palavra chave deste texto (do v. 4 ao v.8 aparece sete vezes). Expressa a confirmação ou a renovação de uma atitude antes assumida. Supõe que o discípulo já tenha, anteriormente aderido a Jesus e que esta adesão adquira, agora, estatuto de solidez, de estabilidade, de constância, de continuidade. É um convite a que o discípulo mantenha sua adesão, a sua identificação com ele, a sua comunhão com ele” (Roteiros CNBB).

Permanecem no Senhor os que fazem a vontade do Pai, os que assumem de verdade a morte do homem velho, os que renovam constantemente seu batismo, os que fogem de uma religião de aparência, os que examinam regularmente sua consciência para ver se estão solidamente unidos ao Senhor.

A alegoria da videira fala de poda. O agricultor corta os ramos que não dão fruto, mas poda os que dão fruto para que deem mais abundantemente. Fazer a poda é limpar os galhos de impurezas, retirando-lhes o supérfluo que impede a brotação.


Texto para reflexão

A escolha é clara: permanecer em Cristo e frutificar, ou morrer sem produzir fruto. Permanecer em Cristo significa perseverar, agarrar-se a ele, quaisquer que sejam as situações, as dificuldades, as provações que se possa estar vivendo. Permanecer é ser fiel. Permanecer nele é também guardar o seu mandamento. “Amai-vos uns aos outros”. Um amor que encontra seu fundamento no próprio amor de Cristo, um amor obstinado, sem arrependimento, até a morrer. Permanecer em Cristo é permanecer na Igreja, seu Corpo. A Igreja, comunidade dos fiéis. A Igreja, lugar em que vida se move na linha do dom e do serviço, mesmo se nela exista o pecado e fragilidade do homem (Missal Italiano).


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

Jesus, a Videira, nós os ramos

Pe. Johan Konings

Na liturgia dos domingos depois da Páscoa aprofundamos o mistério do Senhor Jesus glorioso, no qual transparece o amor do Pai, fonte do seu amor por nós e de nosso amor aos irmãos e irmãs. Isso fica claro de modo especial hoje, na parábola da “videira” (evangelho).

No Antigo Testamento, a vinha de Deus era o povo de Israel. Diz o profeta Isaías que Deus esperava dessa vinha frutos de justiça, mas só produziu fruto ruim (Is 5). Jesus mesmo contou uma parábola acusando, não a vinha, mas os administradores, porque não queriam entregar ao “Senhor”(= Deus) a parte combinada e quiseram apropriar-se da vinha (= o povo), matando o “Filho” (= Jesus) (Mc 12,1-12). No evangelho de João, Jesus modifica um pouco essa imagem. Não fala numa plantação inteira, mas num pé de uva, uma videira. Ele mesmo é essa videira. O Pai é o agricultor que espera bons frutos, e nós somos os ramos que devemos produzir esses frutos no fato de nos amarmos uns aos outros como Jesus nos amou. Pois Jesus recebeu esse amor do Pai, e o fruto que o Pai espera é que partilhemos esse amor com os irmãos (cf. também próximo dom.).

”A vinha verdadeira sou eu”- Jesus, unido aos seus em união vital. Essa união consiste em que permaneçamos ligados a ele, atentos e obedientes à sua palavra, ao seu mandamento de amor fraterno. E também, unidos entre nós, pois todos os ramos da videira recebem sua seiva do mesmo tronco, que é Jesus. A 2ª leitura de hoje explica isso melhor: fala do amor eficaz, o amor que produz fruto, não só “em palavras”, mas “em ações e em verdade” (1Jo 3,18-24). Tal amor eficaz faz com que tenhamos certeza de sermos “da verdade”. Por isso podemos ter paz no coração, pois sabemos que Deus se alegra com os nossos “frutos” e vence o medo e a incerteza de nosso coração (= consciência), mesmo se este se inquieta por nossas imperfeições (3, 20-23). Deus é maior que nossos escrúpulos.

Esse modo de falar nos faz ver a Igreja de outra maneira. Já não aparece como um poder ao lado do poder político, como uma “organização” burocrática, mas como um “organismo vivo” de amor fraterno. Na Igreja, Jesus e nós somos uma realidade só. Vivemos a mesma vida. Ele é o tronco, nós os ramos, mas é o mesmo pé de uva. Somos os produtores dos frutos de Jesus no mundo de hoje. Para não comprometermos essa produtividade, devemos cuidar de nossa ligação ao tronco, nossa vida íntima de união com Jesus, nossa mística cristã – na oração, na celebração e na prática da vida. Produzir os frutos da justiça e do amor fraterno e unirmo-nos a Cristo na oração e na celebração são os dois lados inseparáveis da mesma moeda. Não existe oposição entre a mística e a prática. Importa “permanecer em Cristo”. A Igreja ama Jesus, que ama os seres humanos até o fim, e por isso ela produz o mesmo fruto de amor. A Igreja vive do amor que ela tem ao amor de Jesus para o mundo.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Todas as reflexões foram tiradas do site https://franciscanos.org.br/ 

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