O texto a seguir é de autoria do Pe. Márcio Pinheiro, padre da Diocese de Bragança, pároco na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, em Paragominas.
Por Pe. Márcio Pinheiro de Almeida.
As Sagradas Escrituras começam pelas origens. Destacam que tudo era desolação e nada, águas impetuosas e trevas: morte. Mas o Espírito de Deus pairou sobre as águas: a vida. Com estas imagens, os sábios de Israel querem dizer que Deus está em tudo e acima de tudo o que vive, se desenvolve e cresce sobre a terra. O seu Espírito é o penhor de que a criação nunca está privada de Deus: não está abandonada ao acaso nem – a fortiori – a espíritos maléficos. Os símbolos do Espírito São a água, o fogo, a nuvem, o sopro e o vento. Por vezes é comparado a uma pomba e é assim representado, porque se manifestou sob esta forma no Batismo de Jesus. Para os homens dos tempos bíblicos e ainda para os de hoje – a pompa é a imagem da paz e do amor que se torna visível[1].
Segundo Santo Irineu de Lyon (130-208) Deus confiou à Igreja o "Espírito, dom de Deus" (Jo 4,10) a fim de que todos os membros da Igreja possam dele participar e por ele ser vivificados. O Apóstolo Paulo, neste sentido, fala que o Espírito Santo, penhor do dom da incorruptibilidade, confirmação da nossa fé e escada para a nossa ascensão até Deus, suscitou "Na Igreja, apóstolos, profetas, doutores" e todos os outros (1 Co 12,28.11). Assim onde estiver a Igreja, está também o Espírito Santo; e onde está o Espírito de Deus, está também a Igreja e toda a graça. E o Espírito é Verdade (1 Jo 5,6)[2].
De acordo com Yves Congar o termo Ruah aparece no Antigo Testamento 378 vezes e significa, vento, sopro, sede do conhecimento, força de vida de Deus que age tanto no plano físico como no espiritual; o Espírito Santo é visto sempre na sua unidade. Mesmo no uso grego “pneuma” não sugere separação entre “alma e corpo[3]”.
No Novo Testamento vemos a relação entre o Espírito e o evento Cristo: ele foi concebido (Lc 1.35), ungido (Lc 4,21) e age (Jo 8,28-29 na força do Espírito... Jesus promete (Jo 14-17) e concede Espírito Santo (Jo 14,13-14; 7,37-39; 19,30.34). A pregação da Igreja é obra e ação do Espírito Santo (Gl 3,2). Todos são chamados à vida no Espírito (Rm 7,6; 8) e em Cristo (1Cor 12,13; Ef 1,20-23; Cl 1,15-20). Paulo destaca que o Espírito já não é uma simples “força divina”, mas uma “pessoa divina”, enquanto que João apresenta Jesus como àquele que concede e anuncia o envio do Espírito Paráclito.
Segundo os concílios ecumênicos há três “pessoas” em Deus (em grego, hipóstasis) e uma “natureza” ou “substância” (em grego, ousía). Há três pessoas diferentes em Deus. Não há três deuses, mas três pessoas. As três pessoas são iguais. Todas são Deus e têm a natureza divina. Não há uma que seja inferior à outra quanto à sua natureza divina. Todas são igualmente divinas[4].
O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É um mistério. Não podemos ver, reter nem mostrar. Não podemos dispor dele, porque ele é Deus e age secretamente no mundo e nos corações. Mas podemos experimentar a sua existência e a sua ação: quando um homem ou uma mulher fala de Deus de tal maneira que os outros abraçam a fé. Quando alguém sofre ou dá a sua vida pelo Evangelho. Quando alguém respira paz e alegria, quando promove a justiça ou se dedica ao serviço dos outros. Quando duas pessoas enterram a acha de guerra e se reconciliam. Quando alguém agiu mal e repara suas faltas. Quando uma pessoa, amargurada pelo ódio, começa a perdoar e amar. Quando alguém, que só pensava em si, abre os olhos para o sofrimento dos outros. Quando uma pessoa se compromete a serviço dos outros, pedindo que se respeite a flora e a fauna, a água e o ar – a vida posta em perigo pelo homem[5]...
Enfim, podemos afirmar que o Espírito Santo, mistério e presença, é a força motora de toda a ação missionária da Igreja. Ele impulsiona-nos à ação e, ao mesmo tempo, age em nós e nas pessoas, de forma a realizarmos a vontade de Deus. O Espírito Santo é a alma da Igreja, é como que o combustível que nos mantém vivos e atuantes enquanto cristãos - missionários.
[1] EU CREIO. Pequeno Catecismo Católico, 2005, p. 71-72.
[2] Cf. Texto postado.
[3] Idem. Ibidem.
[4]COMBLIN, J. Breve Curso de Teologia: Jesus Cristo e sua missão. São Paulo, Paulinas, 1983, 247-248.
[5] EU CREIO. Pequeno... 2005, p. 71.