Artigo: Campanha da Fraternidade: obstáculos para o diálogo

"A experiência do diálogo faz parte do dinamismo da nossa dimensão social e afetiva..." - Dom Antonio de Assis

Introdução

Há uma íntima relação entre fraternidade e diálogo; podemos dizer que não há verdadeira fraternidade onde não há o exercício do diálogo. A experiência da fraternidade exige a prática da comunicação.

Sim, o diálogo é um exercício e um dos mais exigentes porque exige de nós o exercício de muitas virtudes. Por isso é tão difícil dialogar. Não basta querer, é necessário capacitar-se, treinar-se…

Não basta saber falar, é preciso saber partilhar; não basta escutar o outro, é necessária a experiência da empatia. A experiência de fé nos convoca ao diálogo porque através dela fazemos e somos chamados à caridade.

1. Considerações: é necessário dialogar!

A experiência do diálogo faz parte do dinamismo da nossa dimensão social e afetiva; a dimensão social nos lança ou nos impele ao encontro com os outros. Sociabilidade e comunicação são inseparáveis. Eis porque é importante dialogar!

Nós somos todos diferentes; a diversidade marca o tecido da sociedade; o mundo é marcado pela pluralidade e sem essa característica perderia a sua beleza. Mas a diversidade de indivíduos, povos, culturas não significa motivo para adversidade e violência, portanto, é necessário dialogar!

A sociedade é constituída pela pluralidade de associações e instituições de múltiplas naturezas, com interesses e missão diferentes, mas todas tem uma responsabilidade social, pois foram constituídas para servir a população, portanto é necessário dialogar!

Na vida da sociedade, nem tudo tem o mesmo peso e o mesmo valor; há muitas questões que fazem parte do patrimônio público, do bem comum, há valores sagrados por isso é necessário admitir uma hierarquia entre as exigências, então é necessário dialogar em vista da convergência no essencial!

A diversidade se faz presente em todas as dimensões da vida da sociedade, na economia, na política, na religião, nas profissões, nas ciências, há múltiplos saberes que enriquecem a sociedade e estimulam o progresso, por isso é necessário dialogar! O diálogo é um compromisso de paz, de harmonia, de bom entendimento!

2. Por que Jesus não dialogou com o diabo?

Para que um sujeito possa entrar em diálogo com outro é necessário que sejam asseguradas algumas condições fundamentais. Apesar de toda a sua abertura ao diálogo, para todas as categorias de pessoas, Jesus Cristo negou completamente qualquer possibilidade de diálogo com do Diabo. Por quê? Recordemos algumas passagens bíblicas do encontro entre Jesus e Satanás para vermos como Jesus se posiciona diante dele e compreendermos o porquê dessa postura de Jesus e qual advertência ele nos oferece com essa postura.

O filho de Deus, o mestre do diálogo, travou uma dramática luta contra Satanás. Esse foi o único sujeito com o qual Jesus não dialogou e nem lhe deu chance alguma. Na narração das tentações segundo Mateus, o diabo tentou entrar em diálogo com Jesus por três vezes mas em todas o Filho de Deus lhe respondeu rejeitando qualquer interesse em suas propostas (cf. Mt 4,1-11). Por quê? Porque o diabo começa rejeitando a verdadeira identidade do seu interlocutor. Não há possibilidade de diálogo quando, em princípio, se deturpa e se rejeita a identidade do outro.

Possuído pelo diabo Judas Iscariotes, na última ceia, fechou-se, rejeitando por completo o diálogo com Jesus, rompeu a comunhão e abandonou grupo (cf. Jo 13,18-30). Nessas duas passagens colhemos a ideia de que o orgulho impede qualquer forma de diálogo, porque impõe condições depreciando o outro e o encontro com a verdade buscando realizar os próprios interesses. A absolutização dos nossos próprios interesses dificulta o diálogo e esfacela a comunhão.

Na sinagoga de Cafarnaum um homem possuído por um espírito mau, esbravejando gritava e questionava a Jesus porque se sentia ameaçado com a presença Dele; Jesus, porém, lhe respondeu com dureza: «Cale-se, e saia dele!» (Mc 1,23-25). Quem só sabe questionar e gritar contra a verdade, não abre espaço para o diálogo, por isso Jesus lhe impõe o silêncio. Toda e qualquer forma de agressividade é diabólica, porque divide, deprecia, rejeita o outro. Quem sempre tudo questiona pressupõe que os outros estejam errados, está possuído pelo orgulho e padece de egolatria, dessa forma não há espaço para o diálogo.

3. As consequências da falta de diálogo

Os prejuízos causados pela falta de diálogo podem ser inúmeras, enormes e se fazem presentes em nível pessoal, familiar, social e institucional. Em nível pessoal a negação do diálogo promove o isolamento de si e do outro favorecendo o empobrecimento pessoal porque a interação com os outros nos enriquece. Quem rejeita isso fica limitado, sem referenciais e preso aos parâmetros do próprio eu; a negação do diálogo nos leva também a permanecermos no preconceito, e isso muitas vezes, gera a experiência do medo e da solidão. Sem o diálogo não nos encontramos com outro e nem fazemos a experiência da amizade. Uma vez que o diálogo nos oportuniza o encontro e, este por sua vez, tende a gerar afeto, a negação dessa experiência esfria e empobrece profundamente nossa dimensão afetiva.

Em nível familiar a ausência do diálogo reduz o ambiente doméstico em espaço de conflito, brigas, confusão; sem diálogo não há comunicação na família e sem comunicação resta a frieza e a dispersão. Sem a experiência do diálogo na família não haverá convergência e sem isso não há comunhão, unidade, harmonia, entendimento, sinergia.

Em nível social onde carece a experiência do diálogo, por todos os lados impera as múltiplas formas de violência; sem o diálogo na sociedade tudo será motivo de disputas, conflitos, guerra de interesses entre as instituições e grupos sociais; dessa forma não haverá reconhecimento de direitos e deveres; sendo assim, não haverá a verdadeira cidadania, porque ela pressupõe a colaboração dos cidadãos, a corresponsabilidade, o senso daquilo que é público. Sem diálogo prevalece na sociedade o sistema da selva, que é a lei do mais forte! Dessa forma não haverá respeito pela dignidade de cada um!

A sociedade não é feita somente de indivíduos, mas também de instituições; por isso em nível institucional também é grave a falta de diálogo. Cada instituição tem uma missão a cumprir na sociedade, por isso é chamada ao diálogo com as demais, por causa do serviço ao povo em vista da promoção do bem comum (a economia, a educação, o trabalho, a ciência, a saúde, o meio ambiente…).

Nenhuma instituição se satisfaz a si mesma. Para que uma instituição possa cumprir dignamente a sua função social, ela deve dialogar com a sociedade para perceber suas demandas, suas carências, seus desafios, suas oportunidades. Uma instituição sem diálogo com a sociedade perde a sua significatividade, se enfraquece e morre em seu isolamento. Isso serve também para a Igreja e suas muitas instituições.

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

1. Qual relação existe entre diálogo e fraternidade?

2. Por que Jesus Cristo não dialogou com o Diabo?

3. Que consequências há por causa da falta de diálogo em nível pessoal, familiar, social e institucional?

 

POR DOM ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2

 

Tirado do site da CNBB Norte 2

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