22º Domingo do Tempo Comum

"Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga." (Mt 16, 24).

A diferença entre oferecer e oferecer-se

Frei Gustavo Medella

Na Segunda Leitura deste 22º Domingo do Tempo Comum, São Paulo exorta na Carta aos Romanos: “Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).

Sobre este convite, escreve São João Crisólogo: “Ó inaudito ofício do pontificado cristão, em que o homem é ao mesmo tempo hóstia e sacerdote, porque o homem não busca fora de si o que irá imolar a Deus; porque o homem, quando está disposto a oferecer sacrifícios a Deus, oferta o que é por si mesmo, em si mesmo e consigo mesmo: porque permanece a própria hóstia e o próprio sacerdote; porque a vítima é imolada e continua vivendo, o sacerdote que sacrifica não é capaz de matar! Admirável sacrifício, onde se oferece um corpo sem imolação e sangue sem derramamento” (Lecionário Patrístico Dominical. Petrópolis, Vozes, 2018).

Esta ideia da oferta de si mesmo, assumida integralmente por Jesus Cristo é dos maiores desafios que se apresenta ao cristão. Justamente porque não é algo delegável nem que pode ser buscado em outro lugar que não seja o próprio interior. Significa uma disposição constante e dedicada em morrer para sim, para os próprios planos, projeto e ambições. Não é caminho de facilidade e doçura e o testemunho do Profeta Jeremias, na Primeira Leitura, confirma ser a escolha de servir a Deus um constante movimento de luta interior (J7 20,7-9).

Não faltam ocasiões em que a vontade de desistir vem com força, às vezes do próprio íntimo e em outras ocasiões estimulada por fatores externos, como ocorreu no episódio entre Jesus e o Apóstolo Pedro narrado no Evangelho (Mt 16,21-27). A proposta do Pescador ao Mestre não era absurda ou estranha. Ao contrário, até natural, movida por estima e preocupação. No entanto, Jesus tem clareza de que a tarefa de propor o Reino de forma firme e pacífica era sua, pessoal e intransferível, para a qual não podia delegar ninguém, mas assumi-la como auge do Amor que se encarna e se entrega.
Oferecer algo (uma carona, uma cesta básica, uma doação, um minuto de atenção etc.) não é tarefa das mais difíceis. Basta um pouco de generosidade e a mínima capacidade de cultivar a empatia. Oferecer-se, no entanto, é bem mais complicado e desafiante, pois demanda fé, esperança, coragem, força, empenho e capacidade constante de conversão.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

 

22º Domingo do Tempo Comum

Reflexões do exegeta Frei Ludovico Garmus

 Oração: Deus do universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes”.

  1. Primeira leitura: Jr 20,7-9

A palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha.

Jeremias não escolheu ser profeta do Senhor. Foi escolhido por Deus, como ele mesmo conta, desde o ventre materno (1,4-10). Os tempos em que vivia eram difíceis: Após a morte do piedoso rei justo Josias, o reino de Judá teve maus governantes, a sociedade tornou-se injusta e violenta, a religião era ameaçada pela prática da idolatria e sincretismo religioso. A missão que recebeu de Deus era bastante negativa: “Dou-te hoje – disse-lhe o Senhor – o poder sobre nações e reinos, para arrancar e destruir, para exterminar e demolir, para construir e plantar”. Seus ouvintes – reis, príncipes do povo, sacerdotes, juízes e as pessoas ricas – não gostavam de ouvir suas repreensões e ameaças de castigo, como a invasão estrangeira, a destruição do templo e o exílio. Por isso, até os próprios conterrâneos o odiavam, negavam-lhe até o casamento (11,18-23; 16,1-9), afastavam-se dele e o ameaçavam de morte para fazê-lo calar. O texto que ouvirmos mostra que o profeta tinha vontade de desistir e largar tudo; por isso, ele se desabafa diante de Deus, que o conforta e anima a prosseguir na missão recebida. Ao ser chamado como profeta (Jr 1,4-10), o Senhor lhe tocou a boca e a palavra de Deus tomou conta dele. E agora que pensava em desistir de tudo, a palavra tornou-se dentro dele como um fogo devorador, impelindo-o a prosseguir na dura missão. Deus não abandonou seu profeta, como havia prometido: “Não os temas, porque eu estou contigo para proteger-te” (cf. 1,8).

Salmo responsorial: Sl 62

A minha alma tem sede de vós,

como a terra sedenta, ó meu Deus!

  1. Segunda leitura: Rm 12,1-2

Oferecei-vos em sacrifício vivo.

Paulo nos convida a viver o evangelho de hoje: Não pensar como o mundo (“ganhar a vida”), mas “perder a vida” por amor a Jesus e de seu Evangelho, oferecendo-a “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, isto é, colocando-se a serviço do próximo.

Aclamação ao Evangelho: Ef 1,17-18

Que o Pai do Senhor Jesus Cristo nos dê do saber o espírito;

conheçamos, assim, a esperança à qual nos chamou, como herança!

Evangelho: Mt 16,21-27

Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo.

Domingo passado ouvimos Pedro confessando Jesus como o Cristo e Filho de Deus. Jesus, então, falava em edificar sua Igreja sobre esta confissão de Pedro e lhe prometia o poder de ligar e desligar, as chaves do Reino dos Céus; isto é, confiava-lhe a direção de sua Igreja. Pedro e os apóstolos tinham os seus próprios sonhos e expectativas a respeito de Jesus, agora, reconhecido como o Messias esperado. Mas, hoje, no evangelho que acabamos de ouvir, Jesus começa a explicar-lhes de que forma ele será o Messias. A viagem que faziam a Jerusalém não terminaria em triunfo, mas na sua rejeição pelos chefes do povo e na sua condenação à morte. Pedro, elogiado no domingo anterior, sente-se no direito de censurar Jesus por ideias tão negativas e assustadoras. Mas Jesus o repreende severamente: “Vai para longe, Satanás”! Não era Pedro que devia guiar Jesus, mas, sim, colocar-se no seguimento do Mestre. Pedro pensava como os homens pensam e não como Deus. Em seguida, Jesus se volta para os discípulos e expõe qual é o pensamento de Deus: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por amor de mim, vai salvá-la”. Marcos e Lucas explicitam que Jesus falava disso a todos, isto é, para as multidões que o seguiam; portanto, também para nós. Quando o evangelho de Mateus foi escrito, após o ano 70, seguir a Jesus significava carregar a sua cruz, ou seja, o desprezo, as perseguições e a própria morte [1ª leitura]. Mas a meta final desta viagem a Jerusalém é a ressurreição de Cristo. Assim o é também para todos nós: “Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai… e retribuirá, a cada um, de acordo com a sua conduta”.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFM,é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Pode-se repetir a cruz de Jesus

Frei Clarêncio Neotti

A segunda parte do Evangelho (vv. 24-27) se dirige aos discípulos de todos os tempos. Não apenas a estrada de Jesus é difícil, mas a de todos os que querem segui-lo, porque a estrada é a mesma. Jesus podia estar animando os Apóstolos que, logo mais, morreriam de morte violenta como ele. Mas o convite foi dirigido a todos. São Paulo disse na Carta aos Filipenses: “Foi concedido a vocês não somente crer em Cristo, mas também sofrer por ele” (Fl 1,29). Há um sofrimento do qual nenhum discípulo pode escapar: a renúncia aos próprios interesses. A renúncia traz dor. Mas nem toda renúncia é perda.

Vivemos agarrados ao nosso eu, às nossas pequenas e grandes realizações pessoais. Qualquer livro de psicologia moderna nos ensina a satisfazer nossos desejos, a desenvolver nossas capacidades, a vencer sempre, não importando com que meios. Ao começar a vida pública, o demônio tentou levar Jesus a satisfazer o desejo do ter, o desejo do aplauso, o desejo do poder. Seria o caminho normal. É o nosso caminho normal. Mas Jesus o renunciou com firmeza.

Jesus seguiu outro caminho, até contrário a esse. Por isso chocou muitos discípulos medíocres. Os santos tiveram a coragem de desviar-se do caminho ‘normal’ das próprias satisfações e entraram, atrás de Jesus, pelo difícil caminho da renúncia. Foram tidos como loucos. Já São Paulo lembrava “a loucura da cruz” (1Cor 1,18). De São Francisco escreveu o papa Pio XI: “Parece lícito afirmar que jamais houve em quem brilhasse mais viva e mais semelhante a imagem de Jesus Cristo e a forma evangélica de vida do que em Francisco”. Em outras palavras, Francisco foi fidelíssimo discípulo de Jesus. Ora, quando ele começou o duro caminho da conversão, foi considerado louco por todos os que o conheciam. Diz textualmente seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano: “Todos os que o conheciam e confrontavam o presente com o passado passaram a insultá-lo, chamando-o de louco e demente, e lhe atiravam pedras e lama nas praças”. Seu sacrifício, porém, significou salvação para muitos. Sua cruz repetiu a cruz de Jesus, por isso, para ele significou ressurreição e vida verdadeira. Hoje, Francisco é um exemplo de quem “perdeu a vida” (v. 25) para encontrá-la “com Cristo, em Deus” (Cl 3,3).


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

Perdas e ganhos

Frei Almir Guimarães

Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a vida vai perde-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la
Mateus 16, 25

Seguir Cristo significa por a própria vida dele por amor. Aquilo que por amor se perde, na realidade não é perdido, é dado. E o que é dado por amor, é reencontrado na relação.
Luciano Manicardi

Normalmente no final de cada ano costuma-se fazer o balanço de uma loja, de um empreendimento, da vida de uma família ou de nossa avida pessoal. Costuma-se falar em perdas e ganhos. Os que já fizemos uma boa parte da caminhada gostamos de conhecer e reconhecer o que não deu certo, o que deu certo e o que poderia dar mais certo. Trata-se de uma atitude de prudência para desperdiçar o dom do tempo da vida. O evangelho de hoje fala curiosamente de perdas que são ganhos e ganhos que podem ser perdas.

Antes da audição do evangelho pouquíssimos versículos de Jeremias ocupam nossa atenção. Sente-se ele perseguido em sua missão de profeta. “A palavra tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Disse comigo: Não quero mais lembrar-me disso, nem falar em nome dele”. Sente-se no limite de suas capacidade embora tenha sido seduzido pelo Senhor e fale de um fogo ardente a penetrar seu corpo todo. Mesmo assim ele não “quer falar em nome dele”.

O profeta não é alguém que diverte. Sua missão não é adivinhar o futuro, mas compreender o presente. Lançar uma luz que vem da Verdade e da Claridade para orientar os passos de seus ouvintes rumo a Deus. Ele capta a proximidade da luz do sol antes que chegue. Jean Sulivan diz que “o profeta é o diário de Deus”. Sofre, perde e morre. Ganha pela sua coerência e fidelidade a quem o seduziu. De forma alguma poderá ser infiel. O profeta fala de um claridade invisível. Novamente Sulivan: “Quem quiser falar do sol invisível, apresente-se todo ensolarado no meio das trevas. Filhos da luz, parai de provar e dizer: Deus…Deus… Apresentai-vos como aurora”.

Vivemos. Aprendemos a viver. Lutamos. Surge no horizonte de nossa vida a pessoa de Jesus a nos pedir seguimento efetivo, um colocar nossos passos nos seus passos, pede que olhemos o mundo com o seu modo de olhar, insinua que aqui e ali e quase sempre será preciso perder para ganhar. Será preciso não levar a sério a ofensa que foi feita e perdoar. Nem sempre todos os nossos desejos, por mais legítimos, podem ser satisfeitos ao nosso bel prazer. Há limitações naturais, incidentes desastrosos efeitos nossos ou causados por outros. Há desastres físicos, pessoais, familiares. Há esse vírus que mata. Há grãos de trigo para darem frutos aqui ou ali, agora ou depois. Mistério de morte e vida. Esperamos. Os que fomos seduzidos por Cristo daremos os testemunho custe o que custe. É a tal questão das perdas e ganhos.

Ressoam dentro de nós as palavras de Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovai vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que perfeito”. Trata-se da coragem de ser do Senhor no dia a dia: na lisura de todos os comportamentos, na defesa dos mais frágeis, na oposição a tudo o que minora o ser humano. Pouco importa se agradamos ou não.

Jesus anuncia sua morte. Causa escândalo. Pedro não aceita. O Mestre não tem a mentalidade de “vitimismo”. Assume livremente sua morte. Sua dolorida morte, mas acolhida sob o olhar do Pai que parecia silencioso e longínquo. “Em tuas mãos entrego o meu espirito”.

“O Senhor não esperou os teólogos para se explicar em poucas palavras. Todo o esforço de Deus desde a criação tem sido, por todos os meios, fazer o homem compreender que o amava. Esgotados todos os argumentos, apresenta a maior prova “Não há maior prova de amor que dar a vida por aqueles que amamos”. Eis tudo. Depois disso não há mais nada a dizer. Quem quiser que compreenda. Aí está o livro aberto sobre a cruz (…). Em vez de dizer que a Paixão foi a salvação para a humanidade, seria mais exato ver nela apelo: “Adão, onde estás?” É o grito que escapa de todas a chagas do crucificado e impede o autêntico cristão de dormir tranquilo” (Sulivan).


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

A Cruz é outra coisa

José Antonio Pagola

É difícil não sentir desconcerto e mal-estar ao ouvir mais uma vez as palavras de Jesus: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Entendemos muito bem a reação de Pedro que, ao ouvir Jesus falar de rejeição e sofrimento, “o toma à parte e se põe a censurá-lo”. Diz o teólogo mártir, Dietrich Bonhoeffer, que esta reação de Pedro “prova que, desde o princípio, a Igreja se escandalizou do Cristo sofredor. Ela não quer que seu Senhor lhe imponha a lei do sofrimento”.

Este escândalo pode tornar-se hoje insuportável para nós que vivemos no que Leszek Kolakowsky chama “a cultura de analgésicos”, essa sociedade obsediada por eliminar o sofrimento e mal-estar por meio de todo tipo de drogas, narcóticos e evasões.

Se quisermos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que compreender bem em que consiste a cruz para o cristão, pois pode acontecer que nós a ponhamos onde Jesus nunca a pôs.

Facilmente chamamos “cruz” tudo aquilo que nos faz sofrer, inclusive esse sofrimento que aparece em nossa vida, gerado por nosso próprio pecado, ou por nossa maneira equivocada de viver. Mas não devemos confundir a cruz com qualquer desgraça, contrariedade ou mal-estar que acontece na vida.

A cruz é outra coisa. Jesus chama seus discípulos para segui-lo fielmente e colocar-se a serviço de um mundo mais humano: o Reino de Deus. Isto é o principal. A cruz é apenas o sofrimento que nos virá como consequência desse seguimento; o destino doloroso que teremos de compartilhar com Cristo, se seguirmos realmente seus passos. Por isso não devemos confundir o “carregar a cruz” com posturas masoquistas, uma falsa mortificação, ou o que P. Evdokimov chama “ascetismo barato” e individualista.

Por outro lado, devemos entender corretamente o “renunciar a si mesmo”, condição que Jesus pede para carregar a cruz e segui-lo. “Renunciar a si mesmo” não significa mortificar-se de qualquer maneira, castigar-se a si mesmo e, menos ainda, anular-se ou auto destruir-se. “Negar-se a si mesmo” é não viver dependente de si próprio, esquecer-se do próprio “ego”, para construir a vida sobre Jesus Cristo. Libertar-nos de nós mesmos para aderir radicalmente a Ele. Em outras palavras, “carregar a cruz” significa seguir a Jesus dispostos a assumir a insegurança, a conflitividade, a rejeição ou a perseguição que o próprio Crucificado teve que padecer.

Mas nós crentes não vivemos a cruz como derrotados, mas como portadores de uma esperança final. Todo aquele que perde sua vida por Jesus Cristo a encontrará. O Deus que ressuscitou Jesus nos ressuscitará também para uma vida plena.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

Tomar a cruz e seguir Jesus

Pe. Johan Konings

“É proibido proibir”. Hoje em dia existe o pensamento de que nada pode restringir o prazer e o poder. Privar-se de algum prazer é contrário ao que ensinam os grandes doutrinadores da sociedade – a publicidade, a televisão… “Chega de cristianismo triste! Para que sempre falar em cruz e sacrifício?”

No domingo passado vimos que Pedro, com entusiasmo, proclamou a fé em Jesus Messias. No evangelho de hoje, Jesus começa a ensinar que“o filho do Homem” vai sofrer e morrer. Ao ouvir essas palavras, Pedro fica indignado. Mas Jesus o repreende, porque pensa segundo categorias humanas e não segundo o projeto de Deus. Ensina-lhe que, para segui-lo, é preciso assumir a cruz. Séculos antes, Jeremias já experimentara a estranha lógica de Deus. Ele disse abertamente que Deus o “seduziu” para a tarefa ingrata de ser profeta (1ª leitura).

Os critérios humanos se opõem ao modo de proceder de Deus. O homem envereda pelo sucesso e pela eficiência, Deus pelo dom da própria vida. O caminho de Jesus e de seus seguidores é convencer o mundo do amor de Deus.

Deus não deseja “sacrificar pessoas” (como é praxe em estratégias militares e políticas). Apenas deseja que sejam testemunhas de seu projeto. Mas os que não concordam com este projeto matam os profetas, os enviados de Deus, quando estes querem ser fiéis à sua missão. Exemplos disto não faltam em nosso mundo. Por isso, quando Pedro protesta contra a ideia da morte de Jesus, este o vê do lado do grande “adversário”, Satanás: “Vai para trás de mim, Satanás, tu és uma pedra de tropeço para mim”. Pedro deve ir atrás de Jesus, em vez de seduzi-lo para um caminho que não condiz com o projeto de Deus (Satanás significa sedutor). Pedro pensava num Messias de sucesso, Jesus pensa no Servo Sofredor de Deus, que liberta o mundo por sua dedicação até a morte.

A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo, para ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o resultado da estratégia do adversário… Pois o sucesso e a ganância produzem os porões de miséria.

Devemos analisar o sistema de Deus e o sistema do Adversário hoje. O sistema de Deus proíbe ao homem dominar seu irmão, porque Deus é o único “dono”, os sistemas contrários são baseados na dominação do homem pelo homem. Quem quiser ser mensageiro do Reino de Deus experimentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste mundo (2ª leitura). O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade como “corpo alheio”. Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de valores e critérios de decisão. A mania de sucesso, o prazer de dominar, de aparecer, de mandar… já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a Cruz, até o fim.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

 

Veja a reflexão em vídeo: Caminhos do Evangelho | 22º Domingo do Tempo Comum

 

Todas as reflexões foram tiradas do site: https://franciscanos.org.br/

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