23º Domingo do Tempo Comum

"Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão". (Mt 18, 15).

Corrigir também é amar

Frei Gustavo Medella

Na Carta aos Romanos (Rm 13,8-10), São Paulo recorda que a prescrição “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” resume os demais mandamentos. Amar é tarefa exigente, que demanda entrega, compromisso e a disposição em morrer muitas vezes para si e para os próprios interesses. No Evangelho, Jesus ensina que a correção também é uma forma de amor. Deixar o outro seguir o caminho do erro sem ao menos tentar intervir por medo de desagradá-lo ou para evitar aborrecimento não é atitude que se espera de um cristão. Buscar corrigi-lo de forma humilde e cortês é manifestação de bom senso e espírito de caridade.

O caminho da correção é oportunidade de crescimento tanto para quem corrige quanto para aquele que é corrigido. Ao primeiro, representa um esforço importante para sair da zona de conforto e ir ao encontro do irmão que necessita daquela ajuda, ainda que a princípio nem se dê conta. Ao segundo, é a chance de sentir-se amado por alguém que usa de sinceridade porque lhe deseja o melhor.

Entre pais e filhos, irmãos, casal, ambiente de trabalho e comunidades de fé, o hábito de corrigir na caridade traz um amadurecimento valioso e confere força às pessoas e aos grupos para superar os desafios da convivência humana. Se não é a escolha mais fácil, a opção de praticar a correção fraterna é, na grande maioria das vezes, aquela que traz maiores benefícios a curto, médio e longo prazo.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

 

23º Domingo do Tempo Comum

Reflexões do exegeta Frei Ludovico Garmus

Oração“Ó Deus, pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna”.

  1. Primeira leitura: Ez 33,7-9

Se não advertires o ímpio, eu te pedirei contas da sua morte.

O profeta Ezequiel compara a função do profeta em relação ao povo, quando fala em nome de Deus, à de uma sentinela em tempos de guerra. Postado numa torre, a sentinela deve advertir os que estão trabalhando fora das muralhas da cidade para o perigo de um ataque iminente do inimigo. Se ele não der o alarme e alguém do povo vier a morrer, a culpa é da sentinela. Mas se a sentinela avisou e alguém não der importância ao alarme, a culpa será da pessoa que não obedeceu ao sinal de se recolher. Diferente do vigia militar, a função do profeta é ouvir as palavras de Deus e advertir o pecador para que se arrependa e assim se salve. Todos nós somos pecadores. Como o ímpio, devemos ouvir a Palavra de Deus, arrepender-nos de nossos pecados para mudar de vida e nos salvar. O mês da Bíblia nos convida a sermos ouvintes atentos da Palavra de Deus, para produzirmos frutos de vida para nossos irmãos. Deus não quer a morte do pecador e sim que se converta e viva: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas antes que mude de conduta e viva” (Ez 33,11).

A correção fraterna é responsabilidade de cada cristão, um modo de amar o próximo como a si mesmo. Vale, porém, a advertência de Jesus: “Retira primeiro a trave de teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7,5). Conta-se que um pregador famoso ficou angustiado ao ler o texto sobre a sentinela de Ezequiel sobre o dever sempre denunciar a impiedade do pecador. Foi então perguntar a São Francisco de Assis se devia estar continuamente falando aos pecadores, para não ser condenado por omissão. O Santo lhe disse: “Deste modo eu entendo: que o servo de Deus deve tanto arder em si pela vida e pela santidade que repreenda todos os ímpios pela luz do exemplo e pela linguagem do modo de vida. Assim, eu diria, o esplender de sua vida e o odor de sua fama anunciará a todos a iniquidade deles” (Celano II, n. 103).

Salmo responsorial: Sl 94 (95)

Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!

  1. Segunda leitura: Rm 13,8-10

O amor é o cumprimento perfeito da Lei.

Paulo sintetiza, muito bem, a mensagem principal do evangelho de hoje para a vida da Comunidade de fé: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo (v. 8), pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei” (v. 10). Paulo resume os mandamentos do Decálogo relacionados com o próximo e formulados em forma negativa (não…) num único mandamento positivo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus já havia resumido toda a Lei em dois mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,28-31).

Aclamação ao Evangelho

            O Senhor reconciliou o mundo em Cristo, confiando-nos sua Palavra;

             A Palavra da reconciliação, a Palavra que hoje, aqui, nos salva (2Cor 5,19).

  1. Evangelho: Mt 18,15-20

Se ele te ouvir, tu ganharás o teu irmão.

cap. 18 de Mateus é voltado para a comunidade cristã já formada. Convida, sobretudo os dirigentes, a tratar com misericórdia e solicitude os fracos, menosprezados e extraviados. O texto sobre a correção fraterna, que hoje ouvimos, está localizado depois a parábola da ovelha perdida e antes da parábola do devedor cruel, realça ainda mais o sentido da mensagem deste trecho. O texto contém três temas, relacionados à vida em comunidade: a “correção fraterna”, o poder de ligar e desligar e a oração em comum. A “correção fraterna” refere-se, em primeiro lugar, ao modo como o dirigente da comunidade deve corrigir o pecador. A finalidade é “ganhar o irmão”. O caminho indicado é falar em particular com a pessoa que errou, com misericórdia e amor. Tratar com carinho como bom pastor cuidou da ovelha perdida e machucada (Mt 18,12-14). No famoso livro “O pequeno príncipe”, a raposa pedia ao “pequeno príncipe” que a “cativasse” e ele respondeu que não tinha tempo… Finalmente, quando o pequeno príncipe encontrou tempo, “cativou” a raposa. Quando o pastor encontra este tempo, “ganha o irmão”. O que vale para o dirigente da comunidade vale, também, para o relacionamento entre as pessoas. – O poder de “ligar e desligar” conferido a Pedro (ver 21º domingo), é hoje exercido pelos dirigentes da comunidade, que procuram reconciliar seus membros. O mesmo “poder” vale no relacionamento entre as pessoas: o perdão dado a uma pessoa, ou dela recebido, nos liberta (cf. Mt 18,21-35: devedor cruel) e reconstrói os laços de amor rompidos. Então, sim, podemos rezar juntos o Pai-Nosso, e o Pai celeste nos atenderá e estará no meio de nós.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Perdão: difícil de entender e mais difícil de viver

Frei Clarêncio Neotti

O Antigo Testamento não conheceu o perdão gratuito. Foi Jesus quem o ensinou pela primeira vez e o fez norma de vida. Tanto que é uma das características do cristianismo. O perdão que o Antigo Testamento conhecia era o da vingança. No início, a ofensa podia ser vingada por outra que fosse 77 vezes mais forte que a falta cometida (Gn 4,24). Mais tarde, deu-se um grande passo à frente, adotando a lei do talião: elas por elas, dente por dente; a vingança não podia ser maior que a ofensa. No Sermão da Montanha, Jesus lembrou essa norma jurídica (Mt 5,38) e a declarou insuficiente e superada.

Jesus deu um salto tão grande à frente, que até hoje muitos não o compreendem e, na prática, não o seguem. Jesus instituiu o perdão gratuito: devemos perdoar sem olhar o tamanho da ofensa nem a grandeza da pessoa que ofendeu, e sem exigir reparação; sempre, sem exceção. Jesus baseou essa doutrina no fato de o Pai do Céu nos perdoar (Mt 5,48) e no desejo inato de cada um ver seus pecados perdoados por Deus (Mt 6,14-15). O perdoar faz parte do homem novo. O Apóstolo Paulo disse lindamente aos Coríntios: “Deus nos reconciliou por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação. Deus, por Cristo, reconciliou o mundo, não levando em conta os pecados dos homens. Ele pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação” (2Cor 5,18-19). Os cristãos, no meio do mundo, poderiam ser chamados de ‘mensageiros do perdão’. A Igreja deveria ser no mundo um exemplo, um instrumento de perdão e de reconciliação. O próprio Jesus tornou-se o modelo de quem sabe perdoar gratuitamente. Bastaria lembrar seu comportamento na Cruz, depois de tanta traição, injustiças e condenação à morte: “Pai, perdoai-lhes” (Lc 23,34). E ao ladrão arrependido não lhe atirou em rosto os crimes passados contra a sociedade, mas disse simplesmente: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

O delicado tema da correção de um irmão

Frei Almir Guimarães

O encorajamento, como a correção fraterna, é uma das facetas da caridade.
Missal da Paulus

♦ O amor que emana do Evangelho manda que corrijamos o irmão quando ele se desvia do bom caminho e envereda por trilhas perigosas. O bem-querer profundo ordena que, sem pretensões de superioridade, alertemos os que podem perder a alegria de viver e escapar da claridade do Evangelho. Tema sempre delicado esse da correção fraterna. Alguém que vive por viver, que sorve de todas as águas, que se mostra indiferente às dores do irmão, dores que escondem ou mostram as dores de Cristo presentes na vida do irmão. Com cuidado faremos a correção., não se pode omitir. Quanto receio… Pisamos em ovo…

♦ O evangelista tem como pano de fundo uma intensa vida de comunidade. Não uma multidão de pessoas que se encontram frequentemente em vários contextos. Pessoas que se conhecem, que percorrem juntas uma parte da estrada. Comunidades celebrantes diferentes de nossas assembleias de “desconhecidos”. Estas últimas pessoas que mal e mal se veem. Indubitavelmente, o cristianismo se vive mais fácil e densamente, em comunidades menores, sempre abertas ao mundo e não refúgio de pessoas timoratas.

♦ Normal que aqueles que tomam consciência da necessidade de corrigir o irmão estejam empenhados seriamente em corrigir-se a si mesmos ouvindo a voz de seu interior, cultivando delicadeza de consciência e compreendendo o mais pessoalmente possível os apelos ou ordens do Evangelho de corrigir. Uma lição antigo do catecismo dizia que a correção dos que erram é obra de misericórdia.

♦ Estas palavras de Luciano Manicardi devem nos fazer pensar: “A correção fraterna opõe-se ao silêncio cúmplice, à passividade de quem não quer brigar com o outro, aos mecanismos de autojustificação sempre prontos a encontrar bons motivos para não intervir e não denunciar o mal ali, onde é cometido. Em nível eclesial, a correção corresponde a uma palavra audaz e profética pronunciada a qualquer preço, porque no meio está o Evangelho. Um dos mais frequentes pecados de omissão é abster-se da denúncia do mal e do pecado, é abster-se da correção fraterna” (Comentários à Liturgia, p.137).

♦ Num linguajar jurídico, o Evangelho fala de alguns passos no movimento da correção: primeira etapa é falar em particular com aquele que erra, em seguida abordagem a dois e depois uma denúncia a Igreja. Estamos nitidamente num quadro de vida em as pessoas estão numa comunidade concreta. Há um pormenor que gostaria de realçar: se, em conversa particular, o irmão acolher correção ele estará salvo. Salvo de quê? De uma condenação eterna? Não em primeiro lugar. Ele passa a ser membro de uma comunidade em que Cristo se faz presente. Passa a ser membro viçoso e não peça morta. O meu amor por ele é tal que desejo que ele seja muito, mas muito feliz readquirido o amor de Cristo, a vontade de fazer morrer o homem velho, a ter saudade de Deus.

♦ Corrigimos a quem vive perto de nós e que amamos. Por vezes hesitamos em fazer a correção com medo de “perder o amigo”. Novamente Manicardi: “A correção fraterna é entendida do ponto de vista de quem a recebe, que é sempre um irmão, um membro da comunidade cristã. É necessária muita humildade e disponibilidade para se corrigir e para recomeçar. A correção fraterna autêntica não é um juízo, e ainda menos uma condenação, mas um acontecimento sacramental que faz reinar Cristo como terceiro entre quem a pratica e quem a recebe. Ela requer a coragem da palavra: coragem que apenas pode nascer enraizando sua própria palavra na Palavra do Evangelho (Idem, p. 138).

♦ Pagola: “Quanto bem pode fazer a todos nós essa crítica amistosa e leal, essa observação oportuna, esse apoio sincero no momento em que nos havíamos desorientado. Toda pessoa é capaz de sair de seu pecado e voltar à razão e a bondade. Mas frequentemente precisa encontrar alguém que a ame de verdade, a convide a interrogar-se e possa contagiá-la com um novo desejo de verdade e generosidade” (Mateus, p. 229).

♦ Cabe aqui ainda uma observação: nossos desvios, nossos pecados, as correções que nos são feitas… tudo podemos levar ao fundo de nossa verdade e celebrar o perdão no sacramento da reconciliação. Nossa vida, por mais alegre que possa ser, é também marcada pela condição de penitente. Até que ponto valorizamos o sacramento da confissão? Somos pessoas em estado “penitencial”? Há posturas que assumimos que precisam de um perdão que vai além do carinho do irmão, ou seja, a celebração do perdão na Igreja? Tudo o que ligares…

♦ Não podemos deixar de levar para nossa vida o último versículo do Evangelho hoje proclamado: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”. Será que vivenciamos isso. Uma presença do Ressuscitado. Onde existe amor de verdade, atenção, é terra sagrada… hora de tirar a sandália dos pés.


Oração

Senhor,
minha vida, minha única vida.
Quero viver intensamente.
Não tolero que empurremos a vida como
se empurra um carrinho com bagagens no aeroporto.
Vivo, corre, faço, desfaço, amo, odeio, choro, canto.
Minha vida meio louca… meio sem eixo.
Seria tão bom que alguém que me ama de verdade
viesse sentar do meu lado e me corrigir
Assim não mais perderia o vigor
dessa aventurosa empreitada da vida.
Dá-me, Senhor, quem corrija meus passos.


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

O que faço por uma Igreja mais fiel a Jesus?

José Antonio Pagola

“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali no meio deles”. A melhor maneira de tornar Cristo presente em sua Igreja é manter-nos unidos atuando “em seu nome”, movidos por seu Espírito. A Igreja não necessita tanto de nossas confissões de amor ou nossas críticas quanto de nosso compromisso real. Não são poucas as perguntas que podemos fazer-nos.

O que faço para criar um clima de conversão coletiva no seio desta Igreja, sempre necessitada de renovação e transformação? Como seria a Igreja se todos vivessem a adesão a Cristo mais ou menos como a vivo eu? Seria mais ou menos fiel a Jesus?

O que trago de espírito, verdade e autenticidade a esta Igreja tão necessitada de radicalidade evangélica, para oferecer um testemunho crível de Jesus no meio de uma sociedade indiferente e incrédula?

Como contribuo com minha vida para edificar uma Igreja mais próxima dos homens e mulheres do nosso tempo, que saiba não só ensinar, pregar e exortar, mas, sobretudo, acolher, escutar e acompanhar os que vivem perdidos, sem conhecer o amor nem a amizade?

O que trago para construir uma Igreja samaritana, de coração grande e compassivo, capaz de esquecer-se de seus próprios interesses, para viver voltada para os grandes problemas da humanidade?

O que faço para que a Igreja se liberte de medos e servidões que a paralisam e atam ao passado, e se deixe penetrar e vivificar pela frescura e criatividade que nasce do Evangelho de Jesus?

O que trago nestes momentos para que a Igreja aprenda a “viver em minoria”, sem grandes pretensões sociais, mas de maneira humilde, como “fermento” oculto, “sal” transformador, pequena “semente” disposta a morrer para dar vida?

O que trago por uma Igreja alegre e esperançosa, mais livre e compreensiva, mais transparente e fraterna, mais crente e mais digna de crédito, mais de Deus e menos do mundo, mais de Jesus e menos de nossos interesses e ambições?

A Igreja muda quando mudamos nós, converte-se quando nós nos convertemos.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

  

Correção fraterna

Pe. Johan Konings

Conforme lemos na 1ª leitura, Deus estabelece o profeta como “sentinela do povo”. Ele tem de avisar os irmãos a respeito de sua conduta, para que não se percam. Deus cobrará dele esse serviço! Na mesma linha, o evangelho nos ensina a prática da “correção fraterna”. Jesus aconselha isso para a comunidade como tal – não apenas para os conventos, fora do mundo… Imagine só que em nossas paróquias qualquer cristão fosse corrigir seu “irmão”ou sua “irmã”!

Jesus ensina, concretamente, o que fazer com o pecador na comunidade eclesial, não para castigá-lo, mas para ganhá-lo e ele não se perder. Primeiro, é preciso falar-lhe em particular (mais ou menos como se faz na confissão); depois, fale-se a ele na presença de algumas testemunhas; finalmente, se não se corrigir, seja interpelado perante a comunidade. E se isto não der resultado, aguente ele o afastamento da comunidade.

Ninguém é uma ilha. A vida de nosso irmão nos concerne. Repartimos com ele nosso espaço vital, nosso trabalho, nosso lazer. Então, somos também, em parte, responsáveis por seu caminho. Devemos avisar nosso irmão quando este parece desviar-se (pois ele mesmo nem sempre enxerga). Isso não é arvorar-se em juiz da vida alheia, mas é serviço fraterno. E devemos também nos deixar corrigir.

“Ninguém tem algo a ver com a minha vida privada”. Mas será que ela é tão privada assim? Hoje, religião e moral são muito privatizadas, mas isso não é necessariamente um progresso! Pode ser uma estratégia do “Adversário” para diminuir a consciência e a força moral do povo. A fuga na privacidade torna difícil o trabalho de transformação: as drogas, a pornografia, a alienação religiosa têm algo a ver com isso.

Devemos ter a coragem de denunciar – com amor e conforme o procedimento do evangelho – os erros dos irmãos, sejam ricos ou pobres, poderosos ou subalternos. Aos abastados, devemos lembrar a “hipoteca social”, a dívida dos ricos com os pobres; aos pobres, importa ensinar uma solidariedade disciplinada, para construir verdadeira fraternidade e comunhão nas coisas materiais. E não tenhamos medo de chamar a atenção para os desvios particulares das pessoas, antes que se tornem um perigo público. Muitos dos males de nosso país e de nossa Igreja provêm do encobrimento daquilo que está errado. É como um câncer descoberto tarde demais…

2ª leitura de hoje (Rm 13,8-10) ensina que o amor é o pleno cumprimento da lei. Uma forma de amar é advertir o irmão. Não é agradável. Mas, quem disse que o amor deve sempre ser agradável? O médico que cura uma ferida nem sempre consegue fazer isso sem dor. Corrigir o irmão – sem se pretender superior a ele – faz parte do “amor exigente”.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

 

Veja a reflexão em vídeo, feita pelo Frei Gustavo Medella: Caminhos do Evangelho | 23º Domingo do Tempo Comum

  

Todas as reflexões foram tiradas do site: https://franciscanos.org.br/

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