Batismo do Senhor

"Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo" (Mc 1,8).

Luzes da Palavra para tempos de pandemia

Frei Gustavo Medella

Os textos bíblicos da celebração do Batismo do Senhor ganham contorno especial nestes tempos que a humanidade vive. Aparecem como bálsamo curativo e como luz de esperança a iluminar os tortuosos caminhos que temos percorrido.

Na primeira leitura (Is 42,1-4.6-7), o modus operandi do Servo de Javé é também aquele que esperaríamos de nossas lideranças – numa linguagem religiosa, de nossos pastores – numa situação limítrofe como a que vivemos. Uma postura comprometida, pacífica e discreta, que promove a concórdia e a soma dos melhores esforços na solução dos problemas. Um jeito perseverante e generoso de quem assume o poder como verdadeira unção para o serviço e não como pedestal de destaque para dar vazão aos próprios caprichos. Estamos urgentemente necessitados de verdadeiros “Servos de Javé”.

Na segunda leitura (At 10,34-38), São Pedro expõe com solenidade uma das maiores máximas da proposta cristã: “Estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas”. Neste contexto de corrida pela vacina e pelos recursos em vista da cura, é verdadeiramente confortante para toda pessoa quando ela se sente incluída na rede de cuidado e proteção formada pela inteligência humana e pelo esforço empenhados de muitos. Todo gesto em vista do acolhimento e da cura das pessoas é verdadeira ação de Deus entre seus filhos e filhas. O critério da universalidade deve estar fortemente presente em cada passo de enfrentamento desta pandemia. Atendimento para todos, vacina para todos e, por outro lado, consciência, respeito e adesão às normas sanitárias por parte de todos. Responsabilidade e compromisso são fundamentais.

No Evangelho (Mc 1,7-11), João Batista tem clareza de quão nobre é sua missão, ele chamado a ser “servo do Servo”. É em vista do Serviço Maior encarnado na inteira entrega do Verbo que João se faz menor e se declara indigno, quase insignificante. Batismo significa “mergulho” e, na perspectiva cristã, aponta para a imersão no Espírito de Amor Serviço pelo qual o Pai, no Filho, deseja nos transformar a todos em seus filhos e filhas.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

 

Batismo do Senhor

Reflexões do exegeta Frei Ludovico Garmus

Oração: “Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos, renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor”.

  1. Primeira leitura: Is 42,1-4.6-7

             Eis o meu servo: nele se compraz minh’alma.

Para a primeira leitura da festa do Batismo do Senhor foi escolhido o primeiro Cântico do Servo do Senhor do II Isaías (40–55). O profeta fala em nome do Senhor: “Eis meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz a minha alma”. Deus põe sobre o servo o seu espírito, para cumprir uma missão universal, “o julgamento das nações”. O servo é um ungido pelo espírito do Senhor. Ele não anunciará um julgamento punitivo para seu povo, pois os exilados pagaram em dobro pelos seus crimes (Is 40,2). O julgamento das nações visa salvar o povo eleito. O servo virá com a mansidão de um pastor para cuidar das suas ovelhas, sobretudo, das mais fracas: Não quebrará a cana rachada, nem apagará o pavio que ainda fumega. Não descansará enquanto não estabelecer os seus ensinamentos e a justiça na terra. O servo é escolhido a dedo – “eu te tomei pela mão”. Por fim, o servo recebe uma missão: abrir os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrá-los do cárcere. O Servo Sofredor é alguém que se compadece dos injustiçados e sofre com eles. Depois de batizado por João, Jesus se identifica com o Servo de Deus quando apresenta sua missão na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-22).

Salmo responsorial: Sl 28

Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

  1. Segunda leitura: At 10,34-38

            Foi ungido por Deus com o Espírito Santo.

A pedido de Cornélio, comandante de um batalhão romano, Pedro foi a Cesareia Marítima para falar sobre Jesus. Cornélio queria conhecer melhor quem era Jesus de Nazaré. Sabia que Jesus tinha sido condenado à morte por Pilatos, mas agora diziam que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Até então Pedro pregava o evangelho apenas para os judeus. Relutava em aceitar o convite de uma família pagã. Mas, na véspera da vinda dos mensageiros de Cornélio foi convencido por uma visão celeste a aceitar o convite (cf. At 10,1-33). Pedro foi muito bem acolhido pela família Cornélio e ambos falaram das visões que tiveram. Pedro começou, então, a falar de Jesus. Enquanto falava, viu o Espírito Santo manifestar-se sobre a família reunida, como acontecera com os apóstolos em Pentecostes. Então ele disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção de pessoas”. Reconhece que os pagãos não precisam tornar-se judeus para, só então, serem batizados. Pois quem pratica a justiça e teme a Deus é bem acolhido por Ele. Como Cornélio já conhecia bastante sobre Jesus, Pedro apenas diz: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, começando pela Galileia, depois do batismo pregado por João” (v. 37). O primeiro anúncio dos apóstolos (querigma) resumia-se à fé em Jesus como o Messias, ungido por Deus pelo Espírito Santo e com poder. Pedro resume em poucas palavras o poder do Espírito Santo que agia em Jesus: Ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele. Pedro fez o melhor elogio de Jesus, Filho de Deus, que passou por este mundo só fazendo o bem. Jesus é a mais bela manifestação do amor misericordioso de Deus. – Fazer o bem é a missão de todos os batizados.

Aclamação ao Evangelho: Mc 9,6

Abriram-se os céus e fez-se ouvir a voz do Pai:

            Eis meu Filho muito amado; escutai-o, todos vós!

  1. Evangelho: Mc 1,7-11

Tu és meu Filho amado; em ti ponho meu bem-querer.

O evangelho de Marcos não fala da infância de João Batista e de Jesus, como Mateus e Lucas. É o mais antigo e o mais curto dos evangelhos. Dá pouca atenção à atividade de João Batista e tem pressa em falar de Jesus. Nos dezesseis capítulos de seu evangelho ocorre trinta vezes a palavra “logo”. O texto de hoje divide-se em duas partes: o testemunho de João sobre Jesus (v. 7-8) e o batismo de Jesus (v.10-11). João apresenta-se como a “voz que clama no deserto”, pregando um batismo de conversão, para o perdão dos pecados (v. 4). João dizia ao povo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu”. Não se considerava digno de ser seu discípulo, nem de desatar suas sandálias. João Batista prepara o caminho do “mais forte”, a nível humano, pregando o batismo de conversão. A voz que clama no deserto chegou até Nazaré e Jesus dirigiu-se ao rio Jordão, onde foi batizado por João. O mais importante acontece quando Jesus sai da água e vê o céu se abrir (“rasgar-se”), e o Espírito descer sobre ele, como se fosse uma pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho, em ti ponho todo meu bem-querer”. A voz do céu chamando Jesus “meu Filho”, o Espírito que pousa em forma de pomba são sinais de que Jesus é o Eleito, o Ungido do Senhor. Ele é o Messias esperado. O “céu se abrindo” indica que o segredo de Jesus vai se revelando aos poucos. Ao longo do Evangelho Jesus vai revelar-se como Messias, Servo sofredor. Quando morre na cruz a cortina do Santuário “se rasga” de alto abaixo e o oficial romano exclama: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,37-39).


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Batismo: mais que purificação

Frei Clarêncio Neotti

Toda vez que se lê o Evangelho do Batismo de Jesus, vem a pergunta: por que Jesus se batizou, se não tinha o pecado original nem outro pecado, se não precisava de purificação? A mesma pergunta se poderia fazer em relação à penitência que Jesus fez, jejuando durante 40 dias (Me 1,13). Jesus assumiu por inteiro, como Deus, a condição humana.

Ao fazer penitência, ao batizar-se, Jesus participa da condição dos pecadores. O Apóstolo Paulo chega a escrever mais tarde: “Quem não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fôssemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Da mesma maneira, na morte da cruz: Jesus não pagou pecados seus, mas os nossos: “Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (lPd 2,24).

Muitos teólogos dão mais uma razão para o Batismo de Jesus. O contato da humanidade de Jesus com a água comunicou à água – na qual seríamos batizados – a força santificadora que a Igreja reconhece no batismo, desde o dia de Pentecostes. Os Atos contam que, logo depois do primeiro sermão de São Pedro, se batizaram cerca de três mil pessoas (At 2,41), cumprindo, assim, desde o primeiro momento, a ordem que Jesus dera ao subir ao céu: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo” (Me 16,16). Vemos como o batismo e a fé são postos como condições para participar da salvação.

O batismo de Jesus é como sua investidura pública, sua consagração para a missão messiânica, que receberá o coroamento na paixão, morte e ressurreição. O batismo inaugura, por assim dizer, o caminho da cruz, que é parte integrante da missão do Cristo. E não foi por acaso que Jesus chamou de ‘batismo’ a sua paixão (Me 10,38-39).


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

O Filho amado nas águas do Jordão

Frei Almir Guimarães

O Senhor vem se fazer batizar junto com os servos, o juiz junto com os réus. Que isso não te perturbe, pois é justamente em tais humilhações que a grandeza dele mais resplandece. Por que te surpreenderias com o fato de ele consentir em receber o batismo e se aproximar de seu servidor com os outros, visto que ficou tanto tempo no seio virginal, saiu dele revestido de nossa natureza, deixou-se esbofetear e crucificar, e se submeteu a tantos outros sofrimentos? O mais estupendo é que ele, sendo Deus, tenha desejado se fazer homem; o resto é apenas consequência lógica disso.
São João Crisóstomo

♦ Lá estava ele, esse João, conhecido como o “batizador” João Batista. Estava às margens do Jordão. Costumava administrar um rito de purificação e de expressão de mudança do coração que chamamos de conversão. Levava as pessoas a celebraram nas águas a vontade de mudar. Houve até quem pensasse que João fosse o Messias. Havia uma expectativa do povo nesse sentido. O evangelista procurará colocar as coisas claras. João não é Messias e ele diz mesmo que não é digno de desamarrar as correias de suas sandálias.

♦ João contemplava os que vinham. Iam se adentrando nas águas, molhando os pés, as pernas, o corpo todo e chegando a purificar o ser inteiro, o corpo e o espírito. Nesse momento, o filho da velhice de Isabel e Zacarias prefigurava, de alguma maneira, o estilo de pregação de Jesus: a urgência da conversão, do doce se transformar em amargo e o amargo, em doce. Seu batismo era um batismo de conversão.

♦ De repente, Jesus se associa ao cortejo dos pecadores. João acha estranho. Não quer aceitar de colocar o gesto de batizar Jesus. Jesus insiste. É preciso que tudo se cumpra. Aquele seria o rito e momento de inauguração da missão do Messias. Mais tarde, o batismo de Jesus seria na água e no Espírito. Mas agora, Jesus queria se associar visivelmente ao cortejo dos pecadores. Não conhecendo o pecado se juntou aos pecadores.

♦ Santo Efrém escreve como que um diálogo entre João e Jesus. Assim fala Jesus: “Pelo meu batismo é que as águas serão santificadas recebendo de mim o fogo e o Espirito. Se eu não receber o batismo nas águas elas não terão o poder de gerar filhos imortais. É absolutamente necessário que me batizes, sem discussão, como te ordenei. Eu te batizei no seio materno; batiza-me no Jordão”. Belas, da mesma maneira, as palavras que Efrém coloca nos lábios do Batista: “Sou um servo totalmente indigente. Tu, que a todos libertas, tem piedade de mim. Não sou digno sequer de desatar as correias de tuas sandálias. Quem me tornará digno de tocar tua sublime cabeça? Obedeço Senhor, segundo a tua palavra; vem, pois, ao batismo ao qual o teu amor te impele. Com suma veneração, o homem pó se vê chegar ao extremo de impor a mão àquele que o plasmou”.

♦ “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E enquanto rezava o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem querer”. A partir desse momento Jesus começará sua vida pública, seu ministério. Os céus se rasgam e o Pai unge o Filho amado. Nele o Pai coloca todo o seu agrado e a partir desse momento Jesus haverá de falar. O Filho amado do Pai vai começar a falar e felizes os que ouvirem a sua palavra ungida. Os discípulos de Jesus haverão de colocar como ponto de honra de seu viver escutar o Filho amado do Pai.

♦ “A experiência vivida por Jesus ao ser batizado é modelo de toda experiência cristã de Deus. Quando em algum momento de nossa vida – cada qual sabe o seu – “o céu se rasga” e as trevas nos permitem ver algo do mistério que nos envolve, o cristão, da mesma forma que Jesus, só ouve uma voz que pode transformar sua vida inteira; “Tu és o meu filho amado”. No futuro será difícil haver cristãos que não tenham tido a experiência pessoal de sentir-se filhos amados de Deus” (Pagola, Lucas p. 66).

♦ Quanta profundidade nessas reflexões de Pedro Crisólogo sobre a festa do batismo do Senhor: “ Hoje o Espírito Santo, em forma de pomba, paira sobre as águas: assim como uma pomba anunciou a Noé o fim do dilúvio, por sua presença os homens saberiam que havia terminado o ininterrupto naufrágio do mundo. Esta pomba não trouxe, como a outra, um ramo da antiga oliveira, mas derramou sobre a cabeça do Senhor, toda a riqueza do novo óleo, cumprindo assim o que o profeta anunciara: “É por isso que Deus te ungiu com seu óleo, deu-vos mais alegria que aos vossos amigos (Sl 44,8)” (Lecionário Monástico I, p. 458).

♦ A partir desse momento Jesus não voltará mais para Nazaré, nem permanecerá com os discípulos do Batista. Ele é o Filho Amado do Pai que vai realizar sua missão evangelizadora. Ninguém poderá segura-lo. Para isso ele veio?


Textos para a reflexão

Que batismo é este?

Hoje o Cristo é batizado no Jordão. Que batismo é este, em que o batizado é mais puro do que que a fonte? Onde a água que lava o corpo não se torna impura, mas enriquecida de bênçãos? Que batismo é este o do Salvador, no qual as águas, em vez de purificar, são purificadas? Num novo gênero de santificação, a água não lava, mas é lavada. Desde o momento em que imergiu na água, o Salvador consagrou todas as fontes no mistério do batismo, para que todo aquele que desejar ser batizado em nome do Senhor seja lavado não pela água do mundo, mas purificado pela água de Cristo. Assim, o Salvador quis ser batizado não visando adquirir pureza para si, mas a fim de purificar as águas para nós.

São Máximo de Turim
Lecionário Monástico I, p.526-527


Confirmação do batismo da do a crianças

Nas primeiras comunidades cristãs fala-se do “batismo de água” praticado pelo Batista e do “batismo do Espírito” introduzido por Jesus. Por isso, ao batizar-se, não o faziam para converter-se em discípulos de João Batista, mas para significar sua adesão ao Evangelho, sua abertura ao espírito de Jesus e sua entrada na comunidade cristã.

Naturalmente o batismo era a culminação de todo um processo de conversão e vinha expressar, de maneira viva, a aceitação consciente e responsável da fé cristã. Hoje não é mais assim. Nós fomos batizados uns poucos dias depois de nosso nascimento, sem possibilidade alguma que o batismo fosse um gesto pessoal nascido de nossa própria decisão. Esta prática de batizar as criancinhas foi introduzida bem cedo nas comunidades cristãs, e, sem dúvida, tem um significado profundo na família cristã que deseja ver seu filho integrado na comunidade cristã. Não obstante, e por legítimo que seja este costume multissecular, é evidente que implica graves riscos, se não adotamos uma postura responsável. O batismo de criancinhas não pode ser entendido como culminância de um processo de conversão. Só terá sentido se o considerarmos com início de uma vida que deverá ser ratificado mais tarde. O batismo que recebemos como crianças está exigindo de nós, adultos, uma ratificação pessoal. Sem ela nosso batismo continua incompleto, como sinal vazio de conteúdo responsável, como chamado sem eco sem resposta verdadeira.


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

Ouvir o que o Espírito diz à Igreja

José Antonio Pagola

Os primeiros cristãos viviam convencidos de que, para seguir Jesus, é insuficiente um batismo de água ou um rito parecido. É necessário viver impregnado de seu Espírito. Por isso nos evangelhos recolhem-se de diversas maneiras estas palavras do Batista: “Eu vos batizei com água, mas Jesus vos batizará com o Espírito Santo”.

Não é estranho que, nos momentos de crise, recordassem de maneira especial a necessidade de viver guiados, sustentados e fortalecidos por seu Espírito. O livro do Apocalipse, escrito provavelmente nos momentos críticos vividos pela Igreja sob o imperador Domiciano, repete constantemente aos cristãos: “Quem tiver ouvidos, que escute o que o Espírito diz às Igrejas”.

A mudança cultural sem precedentes que estamos vivendo nos está pedindo hoje, a nós cristãos, uma fidelidade sem precedentes ao Espírito de Jesus. Antes de pensar em estratégias e receitas diante da crise precisamos rever como estamos acolhendo seu Espírito.

Em vez de lamentar-nos sempre de novo da secularização crescente, precisamos perguntar-nos que caminhos novos Deus está procurando hoje para encontrar-se com os homens e mulheres de nosso tempo; como devemos renovar nossa maneira de pensar, de dizer e de viver a fé para que sua Palavra possa chegar melhor até às interrogações, às dúvidas e aos medos que brotam em seu coração.

Antes de elaborar projetos de evangelização pensados até seus últimos detalhes precisamos transformar nosso olhar, nossa atitude e nossa relação com o mundo de hoje. Precisamos parecer-nos mais com Jesus. Deixar-nos trabalhar por seu Espírito. Só Jesus pode dar à Igreja um rosto novo.

O Espírito de Jesus continua vivo e operante também hoje no coração das pessoas, embora nós nem nos perguntemos como ele se relaciona com os que se afastaram definitivamente de sua Igreja. Chegou o momento de aprender a ser a “Igreja de Jesus” para todos, e isso só ele no-lo pode ensinar.

O que nos parece “crise” pode ser tempo de graça. Estão se criando certas condições nas quais o essencial do Evangelho pode ressoar de maneira nova. Uma Igreja mais frágil, fraca e humilde pode fazer com que o Espírito de Jesus seja entendido e acolhido de modo mais verdadeiro.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

Jesus profeta, servo e filho de Deus

Pe. Johan Konings

Natal se prolonga nas festas da Epifania e do Batismo de Jesus. Todas estas festas têm em comum a idéia da manifestação de Deus ao mundo, em Jesus de Nazaré.

Ora, o primeiro a quem Deus se manifestou foi o próprio Jesus. Manifestou-se a ele para lhe confiar a missão.

A 1ª leitura apresenta o “Servo de Deus” de que fala o profeta Isaías. “Servo” (= ministro, encarregado) é um título do rei, do profeta ou até do próprio povo da Aliança. Na sua disposição a executar o projeto de Deus, tal “servo” prefigura Jesus.

Quando, depois de Pentecostes, os Apóstolos proclamam Jesus (2ª leitura), chamam-no com o nome bíblico de “Ungido de Deus”, em hebraico: messias – ungido com o Espírito Santo.

É isso que o evangelho descreve. Jesus tinha-se integrado no movimento João Batista, o novo profeta, que fez ressoar novamente a voz profética, silenciada durante séculos. Agora, no momento em que Jesus recebe das mãos de João a aspersão do batismo no rio Jordão, Deus lhe dá “sinal verde” para a própria missão: “Tu és o meu filho, em ti repousa meu pleno agrado”. “Filho de Deus” era o título dado ao rei (Davi). Num sentido infinitamente mais rico, este título cabe a Jesus. Deus estabelece Jesus portador de seu “beneplácito “, nomeia-o realizador de seu reinado. Desce sobre Jesus o Espírito de Deus: sua força, seu dinamismo, seu calor, sua sabedoria … O reinado que ele vai implantar supera de longe o de Davi. É um projeto divino, para que Deus reine nos corações humanos e em todas as estruturas da comunidade humana, e para que seus “aliados” realizem a justiça e o amor.

Jesus aceitou sua “nomeação”. Assumiu sua missão e deu a vida para cumpri-la: para desmascarar o cinismo e a hipocrisia dos chefes religiosos e políticos; para ensinar o plano de Deus ao povo, entregue às mãos dos poderosos; para formar um grupo de discípulos que entendessem sua proposta – ao menos, depois de sua morte e ressurreição …

Celebramos hoje que Jesus assumiu a realização da vontade do Pai, a “justiça “. Anunciou aos que mais a esperavam – os pobres, os excluídos – a libertação do regime que domina este mundo. Mas ele não quis ficar sozinho. Formou uma comunidade que continuasse sua missão. Os que sucedem Jesus no empenho pelo reinado de Deus terão de trilhar seu caminho, inserir-se nos movimentos que buscam a justiça concebida por Deus, assim como Jesus se inseriu no movimento lançado por João Batista. Sobretudo, deveremos prestar nosso ouvido e nosso coração a essa voz bem especial que nos faz descobrir aquele que nos envia como “Pai”: “Chamados filhos de Deus, o sejamos de fato” (oração final).


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

 

Reflexão de Frei Gustavo Medella em vídeo: Caminhos do Evangelho | Festa do Batismo do Senhor

 

Todas as reflexões foram tiradas do site: https://franciscanos.org.br/

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