Primeiro Domingo da Quaresma

O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia - Mc 1, 15.

O diabo precisa de matéria-prima para trabalhar

Frei Gustavo Medella

Reflexão em Vídeo de Frei Gustavo Medella: clique aqui.

 

Ao descrever o período em que Jesus viveu as tentações no deserto, o Evangelista São Marcos é econômico nas palavras. Em apenas quatro versículos (Mc 1,12-15) relata a experiência do Senhor quando assolado pelas investidas do mal. Tempo de aflição, mas também de superação.

Em sua sabedoria, Jesus decide medir forças com o mal, mas decide superá-lo na humildade onipotente de que se deixa guiar pelo Espírito. A seu favor estava a liberdade absoluta de que escolhe não tem nada a perder porque se dispõe ao esvaziamento total.

O coração despretensioso é ambiente inóspito para satanás, pois ali ele não encontra as ferramentais sobre as quais gosta de trabalhar: medo, desconfiança, vaidade, prepotência, egoísmo. Quanto mais o ser humano, à maneira de Jesus, consegue se desvencilhar desta “matéria-prima” diabólica, menos o diabo terá espaço para agir em sua vida. Aprender com Jesus é sempre um exercício de liberdade e salvação.


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

 

1º Domingo da Quaresma, ano B

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

 Oração: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.

  1. Primeira leitura: Gn 9,8-15

Aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio.

O livro do Gênesis faz a sua releitura do mito babilônico do dilúvio, que assolou a humanidade primordial. Na versão bíblica, o dilúvio é visto como um castigo de Deus, que “se arrepende” de ter criado os seres humanos, pois “seus corações tendiam unicamente para o mal” (Gn 6,5-6). A maldade e violência humanas, como um vírus mortal, contaminaram toda a terra. Por isso, Deus decide exterminar a humanidade, junto com os animais que vivem sobre a terra (Gn 6,7). E o texto apresenta o motivo: “Decidi pôr fim a toda criatura mortal, pois a terra está cheia de violência por sua causa (da humanidade corrompida). Mas ao mesmo tempo, Deus escolhe Noé, um homem justo, e sua família e lhe ordena construir uma grande barca (arca) para salvar sua família um casal de todas as espécies de animais. Terminado o dilúvio, Noé oferece um sacrifício a Deus. Então, Deus promete nunca mais exterminar homens e animais com um dilúvio, “pois a tendência do coração humano é má desde a infância” (Gn 8,21-22). Deus toma a iniciativa de fazer uma aliança com Noé e seus descendentes e com todos os animais. Sem exigir nada em troca, promete nunca mais exterminar a vida sobre a terra com um dilúvio. Compromete-se a manter a regularidade das estações do ano e um clima propício para a vida de homens e animais sobre a terra: “Enquanto a terra durar, semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais hão de acabar” (Gn 8,22). Da parte de Deus, a continuidade da vida sobre a terra está garantida, pela aliança que estabelece com a humanidade e com todos os seres vivos. Se o arco-íris tem a função de lembrar a Deus o seu compromisso com a vida Gn 9, é também um sinal para os seres humanos que Deus os colocou como cuidadores de toda a vida na Terra (Gn 1,27-31). – Hoje, as mudanças climáticas provocadas pela nossa civilização consumista são um alerta para cuidarmos melhor de nosso planeta, fazendo os a nossa parte para que a vida seja possível.

liturgia de hoje inicia uma grande catequese batismal. Liga as águas do dilúvio, do qual surgiu a nova humanidade, com os novos tempos da boa-nova do Reino de Deus. Dele participamos pelo batismo, recebendo “uma boa consciência” e a vida divina (2ª leitura).

Salmo responsorial: Sl 24

   Verdade e amor são os caminhos do Senhor.

2. Segunda leitura: 1Pd 3,18-22

O Batismo agora vos salva. 

catequese batismal da leitura que ouvimos transmite alguns elementos do Credo: Cristo morreu por nossos pecados, desceu à morada dos mortos (3,18-19), ressuscitou e “recebeu vida nova pelo Espírito” (3,18.21), subiu ao céu e foi exaltado à direita de Deus (3,22), donde virá a julgar os vivos e os mortos (4,5). O batismo purifica a consciência e nos orienta para onde Cristo nos quer levar. Ao morrer, Cristo desceu à morada dos mortos para salvar também os que não foram salvos por ocasião do dilúvio (1ª leitura).

Aclamação ao Evangelho

Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, Palavra de Deus.

3. Evangelho: Mc 1,12-15

Foi tentado por Satanás, e os anjos o serviam.

Após ser batizado por João Batista, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto, onde permanece em oração durante quarenta dias. É tentado por Satanás, mas vence as forças do mal. Refaz a caminhada de Israel no deserto (40 anos), mas permanece fiel. Vive entre os animais selvagens, um sinal que a era messiânica, anunciada por Isaías (11,6-8), está começando. Tudo parece indicar que em Jesus veio o novo Adão, que corrige o pecado do primeiro Adão. Marcos lembra que, no momento do batismo de Jesus, os céus se abriram e o Espírito Santo desceu sobre Ele. A missão de João Batista termina quando ele é preso e começa a de Jesus, que retoma a pregação de João: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (4ª Feira de Cinzas). João preparou a vinda do Reino de Deus. O anúncio de Jesus não é mera continuação da pregação do Batista. Com Jesus temos a plenitude da boa-nova. A vinda do Reino de Deus exige conversão, mudança de atitude, como é proposta pela liturgia da Quaresma. Práticas que sinalizam a conversão neste tempo são a esmola, o jejum e a oração. Que estas práticas nos ajudem a tornar realidade o que pedimos na oração do dia: “Ao longo da Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

 

Colherei o que tiver semeado

Frei Clarêncio Neotti

Há uma observação no Evangelho deste domingo que facilmente passa despercebida. É uma afirmação que “vem” da boca de Jesus, no momento em que começa a “vida pública”: “O tempo já se cumpriu” (v. 15). Todo o Antigo Testamento esperava por esse momento. Os profetas o previram e o cantaram com os mais lindos poemas. O próprio Jesus, em outro momento, lembrou: “Muitos profetas e justos desejaram ‘ver’ o que ‘vedes’ e não viram; ouvir o que ‘ouvis’, e não ouviram” (Mt l3,17). Agora chegou o tempo de ‘ver a salvação’, de ouvir (= praticar) as palavras do Messias, “que são espírito e vida” (Jo 6,64).

Escrevendo aos Gálatas, Paulo chama esse tempo de ‘plenitude dos tempos’, isto é, o ponto mais alto da história da ‘salvação’, o momento da graça redentora. Terminaram os tempos da espera. Começa o tempo da certeza, que não dispensa o esforço, a conversão. Esse ‘hoje’ não é o tempo histórico de Jesus. É o nosso hoje. O hoje de cada um de nós. O Novo Testamento, diariamente novo, constrói, na confiança da vitória, o Reino de Deus sobre a terra.


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

 

Completou-se o tempo...

A caminhada quaresmal

Frei Almir Guimarães

O deserto é o lugar onde ficamos completamente desprotegidos. Lá estamos sozinhos, frente à frente com nós mesmos, com nosso vazio interior, nosso desamparo, nossa solidão, com o imenso nada ao redor e dentro de nós (Grün-Reepen)

♦ Somos colocados diante de um relato evangélico breve como somente Marcos consegue fazer. O Espírito leva Jesus para o deserto, permanecendo ali quarenta dias onde foi tentado por Satanás. Vivia entre animais selvagens e os anjos o serviam. Desafio da tentação e o paraíso reencontrado. Nada de descrição das tentações que aparecem nos outros evangelistas: pão, poder e presunção. Eis aí, pois, o domingo da tentação no deserto. Tempo de escolhas para Jesus. Tempo para rever nossas escolhas. Para Jesus completara-se o tempo para começar seu ministério. “O tempo já se completou”. Agora era para valer…

♦ Quaresma, quarenta dias, tempo de recolhimento, de revisão de vida, tempo que começou quando colocaram cinza em nossa cabeça, somos pó, poeira que o vento leva. Período em que temos diante dos olhos a anual celebração da Páscoa, tempo de reflexão, de acelerar nosso processo conversão para ganhar tempo, tempo para compreender o que vem a ser o homem novo, época em que nos reportamos ao período do catecumenato do século V, das longas maturações interiores em que adultos, pessoas tocadas pelos cristãos, pediam para mergulhar nas águas do batismo na Vigília Pascal. “Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor e não endureçais os vossos corações”. Um retiro espiritual. O que somos? O que realizamos? O que nos faz viver? Onde está nosso tesouro?

♦ Na história da Igreja, monges retiravam-se para o silêncio do deserto. Há um deserto íntimo, um deserto social e esse deserto do silêncio que nos permite recuperar nossa intimidade e nossa verdade. “As grandes obras são obras do silêncio… Se cada dia não reservarmos para nós um momento de silêncio, total, absoluto, senão fizermos este lugar para Deus, silêncio que é como um novo nascimento se não atingirmos esse nível central em que a alma se apresenta unida e não fugirmos de todas as correntes de superficialidade, nunca seremos homens nem cristãos. É no silêncio que podemos respirar a presença de Deus” (Maurice Zundel). Deserto lugar de solidão, de abandono e de tentação.

♦ Ele, Jesus filho do Pai, tendo assumido a condição humana e associando-se a todos os buscadores de conversão no batismo do Jordão, inaugurava sua missão determinada pelo Pai. Revirar as coisas de perna para o ar. Poderosos são os pequenos e não os que se “vestem com penas de pavão”. Grandes são os que os lavam os pés dos irmãos, gente que leva em sua bagagem uma bacia e uma toalha. Pessoas que criam paz e, dissolvem os laços da violência. Os últimos são os primeiros. Um tempo novo de pessoas que juntam trapos humanos e os levam para a hospedaria. Mundo em que os misericordiosos alcançam misericórdia e em que os construtores da casa da vida buscam fazê-la sobre a rocha da fé. “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”.

♦ O tempo da quaresma sempre foi tido como bem propícia ocasião para ver como reagimos no combate contra as forças do mal. Tentações, sugestões que são feitas para apequenar nossa vida, convites atraentes para que aproveitemos a vida ao nosso jeito, segundo nossos interesses, nem sempre os mais generosos, nem sempre os mais humanos e mais transparentes. As tentações sugerem que acolhamos candidamente o que nos é proposto tentando abafar o grito de plenitude que ressoa dentro de nós, sem prestar atenção ao Mistério que fala em nosso interior, nem o murmúrio daqueles que perderam a força de viver e clamam por nós, à beira do caminho, por um pedaço de pão e um afago da mão. Estamos ocupados demais com nosso ego. Cedendo às tentações as coisas parecem agradáveis. Os que acolhem estas solicitações vão se deteriorando humana e esquecem as ternuras de Deus a seu respeito.

♦ Vencer as tentações significa dizer sim ao que posso fazer em conformidade com Cristo, dizer não às pulsões idolátricas e egocêntricas que nos alienam e contradizem nossas relações com Deus, com os outros, com as coisas, conosco mesmos, relações chamadas a se caracterizarem pela liberdade e pelo amor. (cf. Enzo Bianchi).

♦ Não somos completamente autônomos. Não nos inventamos a nós mesmos. Somos partes do sonho de Deus e nossa felicidade não consiste em cumprir uma mera folha da tarefas, mas em voltar o nosso interior para o bem querer, o amor de verdade, buscar o regaço de Deus, procurar encontrar a mão de um companheiro de viagem. Dependemos. Existimos para… Esses outros foram inventados pelo mesmo Amor que nos inventou. Vivemos em definitiva dependência.

♦ Terrível a tentação do poder, da vontade de dominar, de não possibilitar a participação dos outros em nossos projetos, de deixar de ouvir as palavras suaves que nos chegam do mistério do outro. Tal acontece em nossa vida pessoal, na sociedade e mesmo na Igreja. Poder e vaidade não podiam encher a vida de Jesus de brilho. Segundo os outros evangelistas, o diabo sugeriu que Jesus transformasse as pedras em pães não se importando com nada. “Nossas necessidades não ficam satisfeitas apenas com o fato de termos assegurado nosso pão material. O ser humano necessita de muito mais. Inclusive para resgatar da fome e da miséria os que não têm pão, precisamos escutar a Deus, nosso Pai, e despertar em nossa consciência a fome de justiça, a compaixão e a solidariedade” (Pagola, A Boa Nova de Jesus, Vozes, p. 31).

♦ Arriscar-se na vida é o que o Senhor pede e ele mesmo vai fazer assim deixando as areias mornas do deserto. Não ceder à tentação de retirar-se da luta, da ideia de que as pessoas “se virem” sozinhas, do indiferentismo e do salve-se-quem puder. Tentação de enfiar a cabeça na areia e não tomar consciência dos problemas que afetam nossa vida pessoal, a vida do mundo e a vida da Igreja no presente e no futuro. Tentação da intolerância e da intransigência.

♦ Éxupéry: “O deserto sempre me encantou. A gente se senta sobre uma duna de areia. Não se vê nada. Nada se escuta. E, no entanto, há qualquer coisa que se irradia do silêncio – O que torna belo o deserto, diz o pequeno príncipe é que em algum lugar ele esconde um poço”.

♦ No deserto aprendemos que não podemos nos ajudar a nós mesmos… somos pressionados a sair de uma letargia humana e espiritual. O tempo já se completou.

Oração

“E não nos deixeis cair em tentação”

Rezo devagar estas palavras, fazendo-as minhas.
Não me deixes quando as paredes do tempo se tornam instáveis e as palavras de hoje tem a dureza do pão amassado ontem.
Não me deixes quando recuo porque é difícil, quando quase me inclino perante a idolatria do que e cômodo e vulgar.
Não me deixes atravessar sozinho os embaciados corredores da incerteza ou perder-me no sentimento do cansaço e da desilusão.
Não me deixes tombar na maledicência e no descrédito quanto à vida.
Que a tua mão levante à altura da luz a minha esperança.

José Tolentino Mendonça
Um Deus que dança, Paulinas, p. 97


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

 

Ouvir o chamado à conversão

José Antonio Pagola

“Convertei-vos, porque o reino de Deus está próximo”. O que podem dizer estas palavras a um homem ou uma mulher de nossos dias? Ninguém de nós se sente atraído ouvindo um chamado à conversão. Pensamos imediatamente em algo custoso e pouco agradável: uma ruptura que nos levaria a uma vida pouco atraente e desejável, cheia apenas de sacrifícios e renúncia. É realmente assim?

Para começar, o verbo grego que se traduz por “converter-se” significa na realidade “pôr-se a pensar”, “revisar o enfoque de nossa vida”, “reajustar a perspectiva”. As palavras de Jesus poderiam ser ouvidas da seguinte forma: “Olhai para ver se não precisais revisar e reajustar algo em vossa maneira de pensar e agir, para que se cumpra em vós o projeto de Deus de uma vida mais humana”.

Se é assim, a primeira coisa que precisamos revisar é aquilo que bloqueia nossa vida. Converter-nos é “libertar a vida’, eliminando medos, egoísmos, tensões e escravidões que nos impedem de crescer de maneira sadia e harmoniosa. A conversão que não produz paz e alegria não é autêntica. Não está nos aproximando do reino de Deus.

Depois precisamos revisar se cuidamos bem das raízes. As grandes decisões não servem para nada se não alimentamos as fontes. Não nos é pedida uma fé sublime nem uma vida perfeita; apenas que vivamos confiando no amor que Deus tem por nós. Converter-nos não é empenhar-nos em ser santos, mas aprender a viver acolhendo o reino de Deus e sua justiça. Só então pode começar em nós uma verdadeira transformação.

A vida nunca é plenitude nem êxito total. Precisamos aceitar o “inacabado” a que nos humilha, o que não conseguimos corrigir. O importante é manter o desejo, não ceder ao desalento. Converter-nos não é viver sem pecado, mas aprender a viver do perdão, sem orgulho nem tristeza, sem alimentar a insatisfação pelo que deveríamos ser e não somos. Assim diz o Senhor no livro de Isaías: “Pela conversão e pela calma sereis libertados” (30,15).


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

Quaresma, regeneração

Pe. Johan Konings

Celebramos o 1º domingo da Quaresma. Muitos jovens nem sabem o que é a Quaresma. Nem sequer sabem o que significa o Carnaval, antiga festa do fim do inverno no hemisfério norte, que, na Cristandade, tornou-se a despedida da fartura antes de iniciar o jejum da Quaresma… A Quaresma (do latim quadragésima) significa um tempo de quarenta dias vivido na proximidade do Senhor, na entrega a ele. Depois de batizado por João Batista no rio

Jordão, Jesus se retirou no deserto de Judá e jejuou durante quarenta dias, preparando-se para anunciar o Reino de Deus (evangelho). Vivia no meio das feras, mas os anjos de Deus cuidavam dele. Preparando-se desse modo, Jesus assemelha-se a Moisés, que jejuou durante quarenta dias no Monte Horeb (Ex 24, 18; 34, 28; Dt 9, 11 etc), a Elias, que caminhou quarenta dias alimentado pelos corvos até chegar a essa montanha (1Rs 19,8). O povo de Israel peregrinou durante quarenta anos pelo deserto (Dt 2,7), alimentado pelo Senhor.

Na Quaresma deixamos para trás as preocupações mundanas e priorizamos as de Deus. Vivemos numa atitude de volta para Deus, de conversão. Isso não consiste necessariamente em abster-se de pão, mas sobretudo em repartir o pão com o faminto e em todas as demais formas de justiça – o verdadeiro jejum (Is 58,6-8). A Igreja viu, desde seus inícios, nos quarenta dias de preparação de Jesus uma imagem da preparação dos candidatos ao batismo. Assim como Jesus depois desses quarenta dias se entregou à missão recebida de Deus, os catecúmenos eram, depois de quarenta dias de preparação, incorporados em Cristo pelo batismo, para participar da vida nova. O batismo era celebrado na noite da Páscoa, noite da Ressurreição. E toda a comunidade vivia na austeridade material e na riqueza espiritual, preparando-se para celebrar a Ressurreição.

A meta da Quaresma é a Páscoa, o batismo, a regeneração para uma vida nova. Para os que ainda não receberam o batismo – os catecúmenos -, isso se dá no sacramento do batismo na noite pascal; para os já batizados, na conversão que sempre é necessária em nossa vida cristã: daí o sentido da renovação do compromisso batismal e do sacramento da reconciliação neste período. É nesta perspectiva que compreendemos também a 1ª e a 2ª leitura, que nos falam da purificação da humanidade pelas águas do dilúvio e do batismo.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Todas as reflexões e vídeo foram tirados do site: https://franciscanos.org.br/

Dúvidas? Entre em contato
91 3425-1108

Praça da Catedral, n° 368. Centro. Bragança-Pará.

secretario@diocesedebragancapa.org.br

Boletim de Notícias

Deixe seu e-mail para ser avisado de novas publicações